7.6.10

Saudades do N95




Um dia, em Manaus, encontrei Olli-Pekka Kallasvuo, presidente e CEO da Nokia, e perguntei como fariam para superar o N95. Apresentado em fins de 2006 e lançado em 2007, o N95 foi, para muita gente – esta cronista incluída – o melhor celular de todos os tempos. Olli-Pekka sacou o N95 do bolso, olhou, virou na mão, olhou mais um pouco:

-- Vai ser difícil mesmo. Ele poderia talvez ser um pouco mais fino, a bateria devia durar mais... e...

-- E?

-- Não sei. Está tão bom assim, né?

Não estava bom, estava ótimo. A tal ponto que, até hoje, acho que não foi superado. O iPhone é mais bonito, mas em termos de funcionalidade continua perdendo; LGs e Samsungs variados têm um design mais chamativo, mas só; os Androids da Motorola são campeões, mas nenhum pode ser usado com uma mão só – para não falar nas câmeras. Os únicos aparelhos que se comparam aos Nokia em termos de imagem são alguns Sony-Ericsson. Em suma: como conjunto de obra, o N95 continua sendo o tal, apesar do sistema operacional já antiguinho e do look fatigado da interface.

Continua, não: continuaria. Porque, por uma dessas infelicidades da tecnologia, ele já não pode ser encontrado em lugar nenhum, exceto em sites de leilões como o eBay e o Mercado Livre. Semana sim semana não recebo email de algum desconsolado usuário de N95 que procura um novo aparelho para comprar, e não sei o que responder, porque eu mesma ando atrás de um substituto à altura e não encontro. O N97 mini é muito simpático, tem uma câmera excelente e roda os mesmos aplicativos, mas, como tantos outros aparelhos, trocou o T9 por teclado qwerty. Como usuária de longa data de T9, prefiro escrever palavras nas teclas numéricas. É mais rápido e, como eu disse antes, pode ser feito com uma mão só.

Produtos bem sucedidos como o N95 não deveriam sair de cartaz; eles têm fãs que estão muito satisfeitos com sua forma & função, não exigem de um celular nada além do (muito) que o aparelho oferece e não estão dispostos a aprender tudo de novo com modelos que, pelo menos por enquanto, lhes oferecem menos... por mais.

Mas aí está, justamente, o X do problema. A indústria não vive de repor velhos telefones quebrados, e sim de inventar novidades e novas necessidades. Num encontro ainda mais antigo com um CEO da Nokia, este em Helsinki e com o legendário Jorma Ollila (o antecessor de Olli-Pekka Kallasvuo, que decidiu descartar todos os demais negócios da empresa e concentrar seu foco em tecnologia móvel), fui apresentada ao 7650, primeiro celular com câmera integrada. A idéia, na época, era apenas engraçada.

-- Daqui a pouco você não vai mais encontrar um aparelho sem câmera no mercado, -- disse Ollila, profeticamente.

Estávamos em 2002 e, durante um bom tempo, celulares com câmera foram vistos como excentricidades de nerds. Mas não duvidei porque, quando os sábios falam, a gente escuta.

No momento, sou toda ouvidos – mas ainda não ouvi nenhuma boa resposta ao N95, nem por parte da Nokia, nem por parte de ninguém na indústria.

Continuo esperando.


(O Globo, Revista Digital, 7.6.2010)

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