22.9.03



Não comerei da alface a verde pétala

Vinícius de Moraes


Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

(Los Angeles, 1947)

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Eu adoro esse soneto!!! Tenho total identificação com ele -- embora, verdade se diga, melhor seria me desidentificar, e começar logo o regime.

Peguei na página do poetinha, que contém tudo o que ele escreveu: todos os livros, textos esparsos, críticas, letras de música... enfim, tudo! A liberação da obra de Vinícius de Moraes na internet é uma linda iniciativa da família, que caprichou na homenagem.

Aliás, taí família pioneira em termos digitais!

Lembro que, há alguns anos, quando fazer página na internet ainda não era coisa comum, uns fãs mantinham um saite bem bonito, cheio de poemas e letras de música. Pois não é que a família foi lá e mandou tirar do ar, criando o primeiro grande caso de direitos autorais online?!

Daquela vez, fiquei totalmente contra a decisão. Página de fã é o que há de carinhoso e bonito; e, como a gente sabe, não é por estar na internet que um texto vai vender ou deixar de vender.

Agora, óbvio, estou encantada, até porque o saite está muito, muito bem feito. É bonito, a navegação é fácil e, maravilha das maravilhas, o e-leitor ainda pode criar a sua própria antologia pessoal do poeta mais querido do Brasil -- e mandar o link para os amigos!

Presentão esse, hein?!

Corram ...

Update: Não deixem de ler o que o Mahna Mahna (DBTH) escreveu sobre o assunto! Ele fala daquela primeira página sobre o Vínicius, que foi tirada do ar, e se lembra do nome da autora, que eu -- confesso -- já tinha esquecido: Micheline Barroso.

Obrigada pela indicação, Zé Carlos!

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