29.9.03








Micro$oft: os riscos do monopólio

Depois de amanhã a CCIA (Computer and Communications Industry Association) apresenta ao governo americano um relatório em que o monopólio da Microsoft é descrito como uma clara ameaça à segurança nacional. Parte dos motivos não é novidade: ninguém ignora a legião de bugs, worms e vírus que inferniza a vida dos usuários e, sobretudo, dos gerentes de TI. Mas o relatório da CCIA, escrito por sete especialistas em segurança, faz um alerta: a título de reforçar a segurança dos seus produtos, a M$ está criando mecanismos que ampliam cada vez mais o seu monopólio... que é, no fundo, a causa de tantas invasões malsãs! Em suma: os computadores e seus usuários estão sendo vítimas de um círculo extremamente vicioso.

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“A presença deste sistema operacional único e dominante nas mãos de praticamente todos os usuários representa um risco fundamental”, afirma a CCIA na apresentação do relatório. “A migração cada vez mais ampla do mesmo sistema para o mundo dos servidores aumenta o perigo ainda mais.”

“A maioria dos computadores do mundo roda os sistemas operacionais da Microsoft; assim, a maioria dos computadores do mundo está sujeita aos mesmos vírus e worms, ao mesmo tempo”, explica o relatório.

“A única forma de acabar com isso é evitando a monocultura de sistemas operacionais, e por razões tão óbvias e justas quanto as que nos levam a evitar a monocultura na agricultura. A Microsoft amplia o problema através de uma série de práticas que trancam os usuários nas suas plataformas. O impacto sobre a segurança representado por este lock-in é real, e é um perigo para a sociedade. (....) As ameaças à segurança internacional apresentadas pelo Windows são significativas, e devem ser afastadas sem demora.”

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Para mim, a questão é tão evidente que, em tese, nem deveria mais merecer discussão. As nossas vidas hoje dependem, de forma crucial, da rede de computadores que usamos, direta ou indiretamente. Que essa necessidade vital esteja nas mãos de uma única empresa é, mais do que absurdo, apavorante. Pensem: estamos todos — usuários, escolas, hospitais, empresas de tecnologia e por aí vai — entregues, de mãos atadas, à Microsoft.

Isso significa que basta um elemento mal intencionado descobrir uma falha de segurança para que todos percamos horas tentando livrar as máquinas de mais uma praga eletrônica; significa que não temos idéia do que a M$ sabe ou deixa de saber sobre nós e os programas que usamos; e significa, ainda, que sempre pagaremos preços absurdos pelo software que usamos (ou correremos os riscos de enfrentar a lei) porque um monopólio, conforme se sabe (e se vê) cobra o que bem entende pelo que vende.

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Já é bastante mau que isso aconteça com a sociedade em geral; mas quando se entra na área governamental a coisa é deixar os cabelos de pé. Se até os EUA já começam a se convencer que a M$ é um risco à segurança nacional, o que dizer do resto do mundo?

Nenhum governo consciente e zeloso da sua soberania, em parte alguma do planeta, deveria rodar o que quer que fosse em plataformas de software proprietário. Simples assim.

Isso não é implicância minha com a Microsoft; é apenas a constatação do óbvio. A situação seria igualmente preocupante se o monopólio fosse da Apple ou da Sun.

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A CCIA, que luta por “mercados abertos, sistemas abertos, redes abertas e concorrência aberta”, é uma organização sem fins lucrativos que reúne executivos de algumas das principais empresas do setor de informática e telecomunicações, entre elas Sun, Fujitsu, Nokia, Nortel Networks, AT&T, Verizon, Oracle, Yahoo! e AOL.

Fotolog da semana: Zipper

Jaq Joner e Fábio Nagel são um simpático casal gaúcho de produtores de vídeo e cinema. Transplantados para o Rio há alguns anos, eles retratam seu cotidiano em “Zipper”: da pizza à meia-noite na ilha de edição ao passeio na praia, com direito a muitas fotos das cadelinhas Lula e Prue.


(O Globo, Info etc., 29.9.2003)

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