6.4.03



A mesma coisa, mas diferente

A tarde de sábado na Livraria da Travessa virou uma grande social. Ontem encontramos um monte de amigos. Um voltou de viagem e está impressionadíssimo com o anti-americanismo que encontrou por toda a parte. Na Suiça, por exemplo, foi jantar com um amigo inglês. Estavam voltando para o hotel a pé, conversando em inglês, quando, ao passarem por um grupo de estudantes, um deles gritou: "Fuck Bush!". Meu amigo ainda pensou em ir nos estudantes e dizer: "Olha, nada a ver! Eu sou brasileiro e ele é inglês!" mas aí pensou: "Oops, ele é inglês... vai dar na mesma, eles vão gritar Fuck Blair!"

Mas, estranhamente, não dá na mesma. Ninguém está feliz com a Inglaterra, a Inglaterra está na mesma guerra mas, curiosamente, a bronca não é com a Inglaterra. Há uma série de fatores contribuindo para isso, o primeiro sendo, indubitavelmente, o fato que a Inglaterra deixou de ser um império há tempos. Ninguém tem medo que, amanhã, por exemplo, dê uma louca na Inglaterra e ela venha a invadir a Amazônia; já dos Estados Unidos sob a atual administração tudo se pode esperar.

Os outros fatores apenas imagino, mas pode ser que para a imagem menos negativa da Inglaterra esteja contribuindo, em boa parte, a sua imprensa, que em nenhum momento se deixou amordaçar. Pelo contrário -- os melhores artigos sobre o ataque têm sido publicados nos jornais britânicos, e a BBC vem dando um show de boa cobertura na televisão.

E, claro, comparado a Bush, Tony Blair é um estadista da pesada.

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