4.4.03



Cat vê a CNN

São 5:49am no Rio, 12:49am em Bagdá. Está passando ao vivo na CNN a epopéia de um soldado iraquiano ferido há mais de 6 horas entre duas pistas da autoestrada de acesso ao aeroporto internacional Saddam em Bagdá. Um dos repórteres "embedded" da CNN, com habilidade médica, está tratando do ferido, com a proteção de dois militares americanos. Detalhes tocantes de bolsinhas de soro, ataduras ensangüentadas e luvas cirúrgicas. É um salvamento emocionante. Como são caridosos e humanos os americanos. É uma cena de cortar o coração, ver a compaixão desse exército tão bondoso.

O soldado, que tem uma cruz dourada no uniforme, indicando que não é pouca bosta, gesticula loucamente, como se estivesse doendo pacaralho a intervenção do repórter doutor. Ele se debate. No instante seguinte, o cameraman muda o enquadramento para mostrar só os militares que cercam o ferido, mas não mais seus braços nem nenhuma parte de seu corpo.

Passa um tempinho e a maca já está pronta, e vão pegar a vítima para levar para local mais seguro. Agora já são uns 8 milicos em volta do carinha. Tudo transmitido ao vivo pelo videophone, com direito a narração minuciosa de todos os movimentos. Pronto, já botaram o sujeito dentro de um veículo médico.

Agora sim, está tudo ok, o homem está salvo. A cobertura deve ter servido, pelo menos um pouco, para comprovar que o exército americano é composto de seres benfazejos e movidos apenas pelas intenções mais puras. E a CNN então nem se fala. Um primor de cobertura, ainda mais com um repórter que é herói. Desculpem, tenho que parar pois as lágrimas me turvam a vista. (Carlos Alberto Teixeira)

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