10.5.10

Twitter: arte em 140 caracteres





É curioso observar o rumo que tomam as constantes invenções na internet. O Twitter, por exemplo, criado para transmitir recados muito rápidos – “Fui almoçar no Bob’s”, “Vamos ver o fime do Woody Allen?”, “Alguém pode recomendar um bom pintor?” – virou ferramenta de chat, noticiário, central de boatos. Ultimamente, tem sido usado até como exercício literário. Para o que foi o mais badalado e concorrido concurso de microcontos realizado até agora no país, a Academia Brasileira de Letras recebeu, em abril, quase três mil inscrições de tuiteiros inspirados.

E foi lá, também na ABL, que participei, semana passada, com o academico Marcos Vinicios Vilaça e a professora Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, do júri que escolheu os dez melhores contos de Twitter do concurso promovido pelo Blog do Noblat, que teve 2.223 inscritos, 522 pré-classificados e 55 semi-finalistas.

Gostei de ver as possibilidades artísticas do Twitter levadas tão a sério. Trabalhamos assim na etapa final: a partir dos 55 semi-finalistas, marcamos, cada um, os nossos favoritos, para reduzir a contagem. Como apenas um conto foi marcado pelos três jurados, a escolha do vencedor foi fácil. Aqui estão os dez primeiros colocados (em ordem alfabética pelo nome do autor):

“Subitamente, teve certeza: no futuro, se escrevessem sobre ele, teriam dificuldades para atingir os 140 caracteres exigidos pelo twitter”. (Ananias José de Freitas, o vencedor, ganhou um iPod com as músicas que o Noblat seleciona para o blog).

“Revelou, no leito de morte, o segredo de uma vida. Não chegou a saber que havia entendido errado.” (Elton Colini)

“O gato saiu em disparada. A ratoeira acaba de cumprir sua missão.” (Elza Ramirez)

“Foi o raio de uma tempestade em copo d’água que o matou.” (Felipe Cerquize)

“Cinco. Todos os dias, às cinco, ela se posta no portão, com o bilhete amarelado nas mãos. “Mãe, fui ao mercado. Volto às cinco”. (Luanna Azzarito)

“No primeiro jantar de viúvo, só fez olhar o prato. A memória que emanava da louça antiga foi seu único alimento.” (Marcos A. Kohler)

“Abrindo as pernas, ela abriu todas as portas.” (Paulo Maurillio Pereira)

“Conferiu um a um os números da mega sena. Levou um susto. Acertou todos. 30 milhões. Devia ter jogado.” (Rodrigo Guimarães Pena)

“Olhos curiosos passeavam pelo livro, linha a linha, palavra por palavra, letra a letra. Deliciava-se, mas entristecia. Queria saber ler.” (Valéria dos Santos Araújo)

“Chá de cavalos marinhos, a receita da avó para asma. O menino disfarçava, para que o Unicórnio não descobrisse o que lhe ia na xícara.” (Viviane Burger)

* * *


As fotos são as primeiras que fiz com o Nokia N97 Mini, que acabou de chegar às minhas mãos. Apesar de termos ainda pouca intimidade, já dá para adiantar que, seguindo a tradição da linha N, ele tem uma câmera de respeito.

(O Globo, Revista Digital, 10.05.2010)

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