(e um capítulo inédito de “Caminho das Índias”)
Poucos dias antes do final do ano passado, recebi um email da minha amiga Valeria contando que, perto do Natal, uma linda ninhada de gatinhos havia sido abandonada em Botafogo. As fotos mostravam filhotes miúdos, todos muito engraçadinhos, mas uma gatinha, em particular, me chamou a atenção. Era branca, com um olho azul e o outro castanho, bem arrepiada, com aquelas típicas orelhas de filhotinhos em fase Gremlin. Parecia um pequeno ET, e me apaixonei no ato.
Acontece que Lolita, a gatinha da Lapa que veio fazer companhia ao Irineu, andava bem deprimida desde que ele morreu, e precisava de alguém para brincar. O resto da Famiglia Gatto, entre 11 e 18 anos, é praticamente uma ala geriátrica, sem paciência para maluquices de filhotes. Decidi, portanto, que adotaria a gatinha para a Lolita.
No dia 30 de dezembro, tomei o rumo de Botafogo para trazê-la para casa; mas antes mesmo que nos encontrássemos, um pretinho básico, temporariamente abrigado na mesma casa, se pôs a escalar os meus jeans. Tinha um jeito meigo e trapalhão e, depois daquela demonstração de afeto, eu não podia deixá-lo para trás. De modo que vieram os dois comigo.
Os gatinhos -- batizados de Matilda e Tiziu, com a ajuda dos leitores do blog – foram bem aceitos pela Famiglia. Lolita passou a dar de mamar para a Matilda, que adotou como filha; por sua vontade, adotava também o Tiziu, mas ele já se considerava gato feito, e certamente achou que mamar prejudicaria seu status junto à comunidade. O mais espantoso é que, em pouco tempo, Lolita passou a ter leite.
Eu já ouvi diversas histórias do gênero, mas nunca tinha visto isso acontecer.
Matilda e Tiziu acabam de completar seis meses. A essa altura, felinos argutos que são, já sabem tudo sobre mim; e eu, claro, sei duas ou três coisas sobre eles. Matilda, por exemplo, é intrépida e jeitosa. Não tem medo de nada, dá pulos maravilhosos e surpreendentemente altos e, como a Keaton, é uma estudiosa atenta de fenômenos hidrológicos. Onde se abre uma torneira, lá está ela, tentando descobrir de onde vem aquela água -- e, sobretudo, para onde vai. Como encontrou uma mãe de verdade na Lolinha, dispensa carinho de bípedes, exceto à noite, quando corre para a cama, se enrosca no travesseiro e exige cafuné, em altos brados.
Já o Tiziu, quase um anti-gato em termos de agilidade, erra todos os saltos, é desajeitado, derruba tudo. Está se vendo que foi abandonado antes que a mãe pudesse lhe ensinar o pulo do gato. Sua única e imensa preocupação é... comida. Passa o dia rondando as tijelinhas, vira e mexe está na cozinha e não pode ouvir o barulho de qualquer espécie de embalagem sendo aberta: vá que seja coisa de comer? Prova de tudo, e não se conforma quando descobre que existem coisas de que não gosta. Até suco de maracujá ele bebe. Fazendo careta, mas bebe. Gelatina diet, salada, arroz com feijão -- tudo é lucro.
Os dois têm ótima índole e são de natureza modesta: preferem simples bolinhas de papel aos brinquedos sofisticados que trago para eles. Matilda tem muito apego, também, a uma pilha descarregada, que caçou no mês passado, quando troquei as do controle remoto.
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Fui jantar na Roberta Sudbrack para comemorar o aniversário de um amigo. Combinei com a Glória Perez, e acabamos chegando um pouco adiantadas. Pois lá estavamos as duas tricotando, quando o garçom veio nos servir uma taça de champagne, informando que era oferecimento do casal da outra mesa.Os dois, que logo ficaram nossos amigos, são super fãs da Glória. Tem bons motivos para isso: ela é brasileira e ele é indiano -- e ganhou um baita upgrade por aqui depois da novela.
Moram em Zurique, namoram há quatro anos e meio e acabaram de ficar noivos: ele a pediu em casamento com uma aliança linda, num helicóptero ("entre o céu e a terra"), de frente pro Cristo. A data, absolutamente auspiciosa: 5.5.10. Podia ser mais romântico?
Nem a Glória teria imaginado tal cena -- mas já tomou posse, e garante que, mais cedo ou mais tarde, ela será repetida numa telinha perto de você. Difícil vai ser encontrar um casal tão bonito e radiante.
Cristhiane e Siddharth vão se casar em dezembro do ano que vem, e nós vamos fazer um pequeno bonde para a Índia para assistir à cerimônia.
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Na semana passada, vários livros excelentes ficaram de fora da lista do Dia das Mães, a maioria por falta de espaço; mas o livro ideal para a mãe médica ou para a mãe que é fã incondicional de “House” e de “ER” só chega amanhã às livrarias. Chama-se “Todo paciente tem uma história para contar” (Zahar, 325 páginas, tradução do dr. Diego Alfaro), e foi escrito pela doutora Lisa Sanders. Especialista em “mistérios médicos e arte do diagnóstico” – subtítulo do livro e perfeito resumo do seu conteúdo – ela é uma das consultoras de “House” e autora da coluna (do New York Times) que inspirou a série.Não sou particularmente fã de literatura médica, mas adoro policiais – e há um quê de trabalho de detetive nos casos complicados escolhidos pela doutora. Esta semelhança é reiterada por ela mesma, que lembra que Sherlock Holmes foi inspirado não num policial, mas num dos professores de Conan Doyle na faculdade de medicina.
Fica a dica mesmo atrasada, porque, como a gente sabe, o verdadeiro dia das mães acontece 365 vezes por ano. Ou 366, em anos bissextos.
(O Globo, Segundo Caderno, 13.05.2010)
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