31.5.10

BlackBerry no reino das tentações





Uma vez publicamos uma grande matéria no velho ”infoetc” sobre os smartphones, que começavam a conquistar público cada vez maior no Brasil. Ficou bonita e completa – tinha dados, preços e avaliação dos celulares, com fotos e o que mais fosse relevante à informação. Pois na própria segunda-feira em que circulou a edição, recebemos um telefonema muito sentido do assessor da Nextel, perguntando por que não havíamos falado sobre nenhum dos seus aparelhos. Expliquei que Nextel era um mundo à parte, uma espécie diferente de animal – e continuo pensando assim.

Isso foi antes de 2007, porque também não falamos sobre o Blackberry, que ainda não havia chegado ao país. E esta semana, brincando com dois simpáticos representantes da espécie – um Curve lilás engraçadinho e um Bold preto clássico – me lembrei da antiga matéria e me peguei pensando se incluiria os BBs num apanhado geral de smartphones, ou se daria um destaque separado para eles. Afinal, eles também são um universo paralelo na comunicação móvel, com seus teclados que convidam mais a digitar do que a discar, e os planos especiais de que precisam, complementares à conta habitual de voz, para que possam funcionar em toda a sua glória.

Não consegui chegar a uma conclusão definitiva, até porque, com o tempo, as diferenças entre os BlackBerries e o resto da tribo diminuiram muito. Sua grande vantagem, que era ter todos os emails recém-chegados à permanente disposição do usuário, deixou de ser exclusiva com a popularização de aparelhos com vocação internet, como os Androids e o iPhone.

Ao mesmo tempo, suas arestas corporativas foram bastante atenuadas. A Rim percebeu que mesmo no coração do mais feroz executivo pode bater um coração sensível, e dotou os aparelhinhos de ótimas telas, games interessantes, capacidade multimedia, lindas fotos para fundo de tela e câmeras que melhoram a olhos vistos. A do Curve ainda é uma pinhole que deixa a desejar, mas a do Bold, em boas condições de luz, já se porta razoavelmente bem, e pode até gravar vídeos (as fotos acimas foram feitas com ele).

O Bold é, por sinal, um aparelho interessante, mesmo para quem não professa o credo Blackberry. É rápido, tem uma tela excelente e um teclado fácil de usar. Como o resto da família, administra muito bem o uso de bateria.

Comparar o Curve com o Bold é injusto com o primeiro, bem mais barato. Dentro do que se propõe, o Curve tem excelente desempenho. Já o Bold, mais sofisticado sob todos os aspectos, tem, sobre o irmão miúdo, a vantagem de oferecer GPS, vídeo, gravador de voz, Blackberry Maps.

Os Blackberries continuam sendo, essencialmente, máquinas de trabalho. Não existe nada igual para quem depende de email e precisa ter um aparelho 100% confiável. Apesar disso, eles começam a ser, também, máquinas tentadoras. Nunca pensei que um dia eu usaria este termo em relação a eles, mas aí está.

Minha dúvida: mudaram os BlackBerries ou mudei eu?


(O Globo, Revista Digital, 31.05.2010)

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