17.5.10

N97 mini: o barão da cocada preta








Às vezes, a minha mesa parece uma espécie de paraíso hi-tech. Agora, por exemplo: do canto esquerdo me olha o magnífico Motorola Milestone, o aparelho que tenho usado como internet de bolso; a seu lado está o Dext; um pouco à direita o Blackberry Curve lavanda (que parece um brinquedinho); e, logo ali, o Nokia N95 falecido, que ainda não tive coragem de arquivar no meu mini-museu de novas antiguidades. Na gaveta estão o iPhone 3GS e o Nokia N97, que sofreu um acidente de percurso e está com a tela detonada. Ao alcance da mão está o Nokia N97 mini, que abriga o simcard que eu uso.

Quer dizer que o N97 mini é o rei de toda essa cocada preta? É – e não é. O aparelho tem um acabamento caprichadíssimo e é ótimo de pegar. Prefiro-o ao N97 sob vários aspectos: o sistema operacional ficou mais estável, o touch screen, ainda que continue sendo o mesmo resistivo, está mais sensível ao toque, pequenos ajustes aqui e ali melhoraram a “user experience” como um todo e o tamanho, ligeiramente reduzido, faz diferença. Por outro lado, a câmera perdeu a cobertura que tinha, e a bateria é menor. Há diferenças também no teclado, que não tem mais o touch pad do lado esquerdo, substituído por teclas de direção no lado direito. Isso não chega a ser sério, já que o conjunto continua sendo muito bom de usar.

É na comparação com os Motorolas que o N97 mini sofre mais. Não pelo design ou pelo acabamento, que são ótimos, mas por que, a essa altura, o Symbian, seu sistema operacional, parece velho diante do Android e do iPhone. Esta aparência é enganadora, pois na verdade ele continua sendo o mais sólido dos três sistemas, o que mais zela pela privacidade do usuário e, disparado, o que mais habilidosamente lida com multitasking, coisa que o iPhone desconhece. O Symbian é também o que permite a melhor (ainda que não a mais fácil) personalização dos aparelhos. É pena que a sua “embalagem”, por assim dizer, esteja defasada. Isso vale particularmente para o gerenciamento da câmera, que podia estar mais sofisticado.

Para quem vem do mundo Symbian, longe de ser um problema, o look da interface do N97 mini é uma vantagem – ali estão os comandos que já conhecemos de cor e que nos são familiares. Como no N97, foram feitas algumas modificações para acomodar o touch screen, mas nada que comprometa a familiaridade do usuário.

Até ser apresentada ao N97 mini, eu estava usando ora o Motorola Dext, ora o Milestone. Os dois são lindos aparelhos, ainda que um pouco grandes demais; o Dext, mais barato e rodando uma versão já antiga do Android, a Cupcake, tem o melhor teclado que encontrei até hoje num celular, e é muito bom de pegar. Infelizmente a câmera do Dext é um enfeite mais ou menos inútil, já que seus resultados deixam a desejar. A do Milestone é melhor, mas também não se compara à do N97 mini, que dá um show.

Outro problema que parece bobo e pequeno, mas não é, especialmente para quem usa o celular como câmera: nem Dext nem Milestone têm furo para se passar uma correia de pulso. Desde que a Apple decretou que ninguém precisa disso num celular, a vida dos usuários ficou mais complicada. Esqueçam assaltantes; uma mão suada aqui, um esbarrão ali e pronto, lá se vai o aparelho. O N97 mini, como o resto da série N, prefere segurança a frescura, e continua oferecendo o utilíssimo buraco.

Na semana que vem, a gente continua este papo.


(O Globo, Revista Digital, 17.05.2010)

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