24.10.09

Uma livraria extraordinaria



Imaginem o seguinte: este espaço exíguo, e pilhas e pilhas e pilhas de livros, a maioria fora do alcance dos nossos olhos e das nossas mãos. Chegamos então para qualquer um dos vendedores, e perguntamos:

-- Vocês têm por acaso aquele romance em que o rapaz é filho de um caixeiro viajante que passa um dia por Goa...

-- Você quer dizer aquele em que o protagonista é filho de um engenheiro hindu que é designado para a estação ferroviária de Calicute.

-- Isso, isso mesmo.

-- Temos sim. É um ótimo livro.

Ato contínuo, o vendedor pega uma escada, sobe até o último degrau, cavuca atrás de uma pilha e volta com dois livros:

-- Trouxe este outro também, talvez interesse. É do mesmo autor mas, pessoalmente, acho muito melhor.

Não estou exagerando. Vi isso acontecer ao meu lado, com o Luis Filipe, que se lembrava vagamente de um livro.

Pedi recomendações sobre assuntos totalmente diversos (pássaros e plantas da Índia, dicionários de provérbios, romances variados) e a respeito de tudo o vendedor estava extremamente bem informado e tinha uma opinião interessante.

Sempre fui cliente dos melhores livreiros do mundo, que são os meus amigos cariocas de tantas e tão boas livrarias, mas nunca vi nada semelhante em lugar nenhum. Também nunca vi livros tão baratos.

A livraria funciona no mesmo lugar desde os anos 50, e é tocada por uma mesma família, que exerce todas as funções, inclusive o meticuloso preenchimento manual das notas fiscais.

Resultado: gastei o equivalente a uns 300 reais e comprei uma pequena biblioteca de excelentes livros indianos, que vou despachar para casa pelo correio.

Viver é muito perigoso!

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