Certas coisas são mais previsíveis do que desculpas de senadores. O site da Carla Bruni, por exemplo: mal entrou no ar, caiu, derrubado pela curiosidade planetária. Todo mundo interessadíssimo em ver o que Mme Sarkozy levou para a internet (embora aquelas fotos tenham ficado de fora). Entre os milhões de acessos, um veio do outro lado do Canal da Mancha, do número 10 de Downing Street, onde Sarah Brown, mulher do primeiro ministro Gordon Brown, surfava na rede, como de hábito.
“love Carla Bruni Sarkozy's new website though bit bemused by illustration of me”, tuitou (adorei novo website da Carla Bruni Sarkozy, mas meio perplexa com meu retrato). Ninguém resiste a uma celebridade de verdade, mesmo tendo na conta mais de 800 mil seguintes, como Mrs Brown, estrela do firmamento tuiteiro tanto pela visibilidade do cargo do marido quanto por mérito próprio. Tive prova disso quando repassei seu comentário para a minha galera, e ela se apressou em responder: “perplexa no bom sentido – achei muito legal”. Pois eu achei muito legal tuitar com Mrs Brown.
Enquanto isso, pouco antes de entrar no centro cirúrgico para um procedimento de última geração numa válvula cardíaca, Dame Elizabeth pediu: “Apreciaria muito qualquer oração que vocês tenham sobrando por aí. Aviso quando tiver acabado. Amo vocês, Elizabeth”. Dame Elizabeth, que se comunica com cerca de 160 mil tuiteiros, atende, no mundo off-line, por Elizabeth Taylor. Um amigo sarcástico me perguntou, na caixinha de mensagens particulares: “Será que, se ela morrer, vai tuitar também?”. Sem sombra de dúvida! Ao contrário de Mrs. Brown, que põe a mão na massa, Dame Elizabeth tem todo o jeito de tuitar por interpostas pessoas, quem sabe uma acompanhante ou secretária, que anota seus comentários de modo randômico. Tuiteiros de verdade não assinam seus próprios recados. Isso talvez explique porque, sendo tão mais conhecida do que Sarah Brown, Elizabeth Taylor tenha uma turma tão menor.
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Um dos pontos fortes do Twitter é o seu lado vitrine. Nada interessa tanto as pessoas quanto outras pessoas, especialmente quando não há hierarquia e todos encontram-se na mesma praça comum de 140 caracteres, um terreno rico para revelações e descobertas. Quem diria que a mulher do Primeiro Ministro também comete erros de ortografia? Vai ver, é porque foi alfabetizada em inglês. O fato é que escorregou numa palavra que é casca de banana para muitos anglo-parlantes, definitely (com certeza), que insiste em sair pelo mundo como definately. Mrs. Brown foi imediatamente corrigida por incontáveis tuiteiros, saiu-se com graça e nisso ficamos. Ou, melhor dizendo, ficaram, porque aquela é uma praia exótica que não freqüento muito.* * *
O TwitterBr também teve seu momento erro de ortografia essa semana: um inocente “ia” acentuado no i, cometido pelo William Bonner (que atende, online, por @realwbonner). Bonner foi corrigido por uma ex-BBB, voltou fazendo piada e, com isso, disparou no ranking das celebridades brasileiras mais faladas da internet, saltando do 453 lugar para o 16, sem escalas. Se a Ivete não tivesse tido bebê e a Dilma não estivesse ensaiando para lavar as escadarias do Bonfim, teria ido muito mais longe. Para quem se interessar, o ranking fica em www.celeb.com.br.Acompanhar o Bonner no Twitter tem sido, aliás, uma aventura fascinante, uma experiência sócio-psicológica que daria uma grande tese acadêmica (tai a dica: aproveitem!). Como todo mundo que vem da televisão, ele também teve uma ascensão meteórica online, e não duvido que em breve bata o milhão de seguidores do Luciano Huck. Até aí nada demais. O que torna o caso único é a própria natureza da sua celebridade, que não se apóia no que ele é, mas no que representa. Assim, enquanto outros mega-tuiteiros levaram para a internet apenas uma extensão mais acessível daquilo que o público já conhecia, Bonner trouxe algo absolutamente inédito – e, claro, roubou a cena.
De um momento para o outro, a turma descobriu, por trás da figura impecável de todas as noites, o cara comum que não se leva a sério, que faz dieta mas não resiste a um chocolate, que sai cedo de casa para deixar as crianças na escola, que viaja para um lado e para o outro e acaba o dia exausto, que se diverte cutucando os demais e se revela afetuoso e grato diante do carinho que recebe online. Um ser humano de verdade, em suma, com quem é possível se identificar. A presença da pessoa por trás da esfinge da bancada é tão surpreendente que ainda há quem não acredite que o @realwbonner do Twitter seja mesmo o William Bonner do Jornal Nacional. Pois sosseguem. É.
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Esta crônica foi escrita com trilha sonora. Há dias não sai do meu player o som de “Dez cordas do Brasil”, de Jaime Alem: era o que eu queria e precisava ouvir agora. É muito, muito bonito. As treze músicas foram compostas à medida em que iam sendo gravadas, o que dá a impressão de que ele está logo ali, improvisando a seresta na viola caipira. Em cima da mesa, uma coisinha qualquer de comer e o café coado num bule de ágata, com gosto de que tudo vai ficar bem novamente. Valeu, maestro, muito obrigada!* * *
Estou saindo de férias. Desculpem os montes de emails que não respondi. Não foi falta de atenção, mas falta de tempo, mesmo. Em novembro a gente se encontra de novo.(O Globo, Segundo Caderno, 8.10.2009)
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