25.10.09

Mariana e Afi Pande



Vocês devem estar querendo saber como é que eu vim parar num casamento indiano.

Pois então: sorte!

Estão vendo como funciona?

A noiva, uma gracinha chamada Mariana, antes Rangel e agora Pande, é prima do Ricardo, filho do Flávio Rangel e afilhado do Millôrzinho, que conheço desde menino. Ele vinha para o casamento, eu vinha porque vinha; acertamos as agendas e, quando vimos, estavamos ambos aqui.

Vá lá que a vida seja uma sucessão de acasos, mas alguns são mesmo mais ocasionais do que os outros, se é que vocês me permitem o momento de filosofia de botequim. Ontem à tarde, passeando pelo túmulo de Humayun, o meu sentimento predominante, além do encanto pelo lugar e por aquele pôr-do-sol deslumbrante, era uma profunda perplexidade:

-- Ricardo, você se deu conta de que nós estamos na Índia?!

Uma das qualidades que mais gosto no Ricardo é que ele entende perfeitamente o que significa uma pergunta dessas; aliás, ele entende qualquer tipo de pergunta, e tem uma quantidade respeitável de respostas, para não falar numa curiosidade malsã.

É uma companhia maravilhosa.

E, assim como ele pegou carona numas pontas da minha viagem, eu peguei carona no casamento da Mariana, que conheceu o quase-carioca Afi na Lapa. Afi é matemático, fala português muito bem e é um brasileiro perfeito: a gente só diz que é indiano pela roupa.

O casamento dos dois (que já se casaram no Brasil há alguns meses) começou na sexta-feira, num imenso jardim. Foi uma noite deliciosa, com muita música indiana e brasileira, muita dança, muita comida gostosa.

Foi nessa festa que as moças pintaram as mãos com henna. Além disso, havia lá um rapaz com um jeito incrível para misturar cores, que enfeitava os braços das convidadas com dezenas de pulseirinhas de vidro coloridas e brilhantes.

(Contei as minhas quando cheguei em casa: 48!)

Ontem houve um jantar formal, ao qual compareceu uma pequena multidão. Havia ministros e autoridades e, conseqüentemente, uma segurança que deixa a nossa no chinelo. O problema aqui não é assalto, é terrorismo, o que faz com que se redobrem os cuidados em quaisquer funções que contem com a presença de personalidades.

Hoje de manhã, na casa do noivo, aconteceu a cerimônia religiosa, para convidados próximos à família. O mundo de língua portuguesa fez um bonito e foi super bem representado. Além de uma quantidade de brasileiros amigos da noiva, vieram o Luis Filipe e a Margarida, e o Marco Antônio Diniz Brandão, nosso simpaticíssimo embaixador na Índia.

Devo dizer que, vendo esses três juntos, senti um enorme orgulho do meu país e das nossas origens portuguesas. Duvido que qualquer outro bloco linguístico possa apresentar, num mesmo país, embaixadores ao mesmo tempo tão bem preparados e tão humanos, tão gentis e admiráveis por suas qualidades pessoais.

Os indianos, sempre muito formais, tratavam ao Luis Filipe e ao Marco Antônio de "Excelência", sem saber o quanto estavam certos.

* * *

Para quem perguntou se a realidade se parece com a novela: com certeza! Vestida numa roupa preta e dourada, me senti em pleno set de "Caminho das Índias". O que havia de saris coloridos... Os homens usavam túnicas, algumas simples, outras bordadas, mas todas muito elegantes.

Acho a roupa indiana chique demais.

Finalmente, mais uma vez se comprova que o mundo não é apenas um ovo, mas um ovo de codorna. Não é que a Mariana é muito amiga de uma das filhas do Luis Filipe e da Margarida, e freqüentou a casa deles quando eram consules no Rio? E não é que aquela bonita mão pintada de henna que fotografei é da irmã da minha querida colega Raquel Bertol? E não é que o marido dela foi aluno e é amicíssimo da Luiza Novaes, minha amiga de infância, vizinha do Bairro Peixoto, colega de turma da Laura no Brasileiro de Almeida e irmã da Claudia Novaes, que por sua vez foi minha colega de turma e é amiga da vida inteira?

A teoria dos seis graus de separação está inteiramente furada: ninguém precisa disso tudo!

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