5.10.09

Touchscreen

Divertido, sim; perfeito, não



É impossível negar o impacto do iPhone no mundo dos celulares. Não apenas pela quantidade de usuários que conquistou, mas também, e especialmente, pelo efeito sobre os produtos produzidos pelos demais fabricantes. Está ficando monótono olhar vitrine de operadora: não há empresa que não tenha pelo menos um “iPhone”, quando não linhas inteiras de variantes sobre o mesmo tema. Todos pretinhos, básicos, touchscreen.

Muito touchscreen.

O touchscreen permite a criação de aparelhos minimalistas e elegantes e, em alguns casos, como apontar e arrastar, é intuitivo e fácil de usar. Ao mesmo tempo, tem algo de mágico. Carregam-se coisinhas pra cá e pra lá com as pontas dos dedos, ampliam-se imagens, rolam-se telas. Não esquecer o fator hype: é chique tomar café no shopping fazendo floreios digitais sobre o aparelho. Quem olha logo vê que ali está uma criatura não só bem de vida como antenada com o seu tempo.

Em alguns casos, a criatura antenada acima descrita está bem servida. A interface do iPhone matou a charada do touchscreen, criou um padrão de excelência e uma área de lazer sensacional no espaço de uma tela.

O calcanhar de Aquiles do touchscreen, porém, está no que se precisa teclar. O próprio verbo, teclar, conspira contra uma superfície onde não há teclas.

Entrar o número de um telefone num tecladinho convencional é coisa que se pode fazer no escuro e de olhos fechados; na tela touchscreen, por mais prática que se tenha, é preciso prestar atenção. A margem de acerto que se consegue nas teclas é incomparável. Mesma coisa para escrever. Para quem é fluente em T9, a “linguagem automática” dos teclados numéricos, mandar um torpedo não tem mistério algum, e é coisa que se pode fazer com uma mão só. Aliás, já levei muito esbarrão de gente que tem mania de mandar SMS enquanto anda: como também faço isso, fica difícil evitar o encontrão quando somos dois andando e teclando. Escrever em touchscreen é atividade mais demorada, com índice de erro maior. Não bom.

Outro problema do touchscreen é a tela eternamente suja. Por mais cuidado que se tenha, por mais que se lavem as mãos, há sempre gordura suficiente na pele e poeira bastante no ambiente para tirar do cristal o brilho imaculado que apresenta nas vitrines e propagandas.

Num mundo ideal, celulares viriam com touchscreen e com teclados, e nós poderíamos escolher quando usar uns e outros. Não descobri nenhuma novidade: a indústria sabe disso e tem trabalhado com alguns híbridos. Estou justamente testando um deles, o Nokia N97.

Que tal? Muito interessante, mas...

Bom, semana que vem volto ao assunto. Até lá!


(O Globo, Revista Digital, 5.10.2009)

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