25.5.09

Vida.com: parem o mundo!



Na quinta-feira, em desespero de causa, escrevi isso no Facebook: “Cora Rónai está com o trabalho todo atrasado!”. É só parcialmente verdade. TUDO está atrasado na minha vida, e não vejo como mudar esse estado de coisas. A sobrecarga de informação acertou o passo comigo, me ultrapassou e periga me jogar fora da estrada; como todo mundo, eu também precisaria de um dia de 48 horas para ficar minimamente em dia com o que me cerca. Recebo e compro mais livros do que consigo ler, tenho mais DVDs do que posso assistir pelos próximos dez anos, CDs e revistas se amontoam ao meu redor, há mensagens por responder na secretária eletrônica, no celular e na mailbox.

Olho para os gatos cochilando no tapete e tenho certa inveja da sua vidinha tranqüila. A quantidade de informação que um gato administra está perfeitamente de acordo com o seu tempo físico e com a capacidade do seu cérebro: onde ficam os potinhos de água e de ração, quem são os bípedes e quadrúpedes do pedaço, o que significam os vários ruídos da casa, o que é bom para brincar e o que é melhor deixar quieto. É um universo simples e descomplicado, que permanece mais ou menos igual desde que os gatos vieram ao mundo.

Já a complexidade da vida dos humanos, depois de alguns milênios em banho-maria, está se acelerando a uma velocidade inimaginável. Como o nosso cérebro continua o mesmo, o tempo encolhe proporcionalmente, já que tem que ser dividido em fatias cada vez menores. Aquele mundo em que MacLuhan disse que um dia todos teriam quinze minutos de fama ainda era um mundo controlável, pré-internet. A maior dificuldade da equação era a fama, que não passava de uma figura de retórica; hoje é o tempo, que é real. Quinze minutos são uma eternidade, uma abundância de segundos de que ninguém mais dispõe.

O ser humano é, por definição, um animal multi-tarefa, mas há um limite para a sua capacidade de processamento de dados. Se já não a ultrapassamos, estamos perto disso, como provam os esquecimentos, os “brancos” e a quantidade de vezes em que nos queixamos da memória. Quem tem lembrança de um pai ou avô que sabia longos poemas de cor fica admirado: como era possível? Como eram superiores as pessoas de antigamente...! Mas não é bem assim. A capacidade de armazenagem dos antepassados notáveis não era muito diferente da nossa; apenas estava ocupada de outra maneira. Entre outras infinitas coisas, eles certamente não tinham 597 contatos no Orkut.

(O Globo, Revista Digital, 25.5.2009)

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