3.5.05





Teotihuacán fica a uma hora da capital, e é um dos sítios arqueológicos mais importantes e misteriosos do mundo.

Não se sabe quase nada a respeito desta cidade extraordinária. Provavelmente começou a ser construída em torno de 200 a.C., mas não se sabe como, ou por quem.

Estima-se que tenha abrigado, em seu apogeu, cerca de 125 mil pessoas; mas não há pista dos seus habitantes, nem utensílios, nem restos humanos.

Nada.

Quando os astecas a encontraram, por volta do ano 1.200 da nossa época, já estava abandonada há uns 500 anos.

Seus pontos altos -- literalmente! -- são as pirâmides da Lua e do Sol. Embora tenham alturas diferentes, obedecem às variações do solo e estão no mesmo nível.



Sim, crianças, pasmem: eu subi lá em cima!

Pirâmide da Lua, 66 metros de altura, íngreme às pampas.

Não recomendo a quem tenha vertigem.



A arquitetura é um prodígio de cálculo e de engenharia mas, por admirável que seja, não chega a ser propriamente amistosa.

O ar é seco e a altitude -- 2.300 metros -- tira o folêgo.

Até a vegetação é inóspita, ressequida.



Eu estava mais ou menos de olho nas pessoas, mas quando vi alguns desses passarinhos, não quis perdê-los de vista até fotografá-los. O problema é que, além da camuflagem perfeita, são muito pequetitinhos e velozes.

Deram trabalho.

Quando, finalmente, consegui as fotos, cadê pessoas?

Tinham sumido todas, não só as quatro do meu grupo, mas todos os turistas, todos os guias e -- inacreditável! -- todos os vendedores de artesanias.

Eu estava totalmente sozinha.

Até onde podia ver, não avistava vivalma; o único barulho era mesmo o dos passarinhos e, logo depois, o do vento, que levantou uma poeirada indescritível.



Eis-me perdida entre as pirâmides: distâncias enormes, degraus por toda a parte, ninguém, absolutamente ninguém, à vista.

Não bom.



Depois que a gente sai da área das pirâmides, fica difícil andar pelos degraus. As pedras são irregulares e, em alguns trechos, pontiagudas.

Um tornozelo torcido numa hora e num lugar desses não é uma boa pedida.

Resolvi, pois, cortar caminho pelo mato, preocupada apenas com uma coisa: que escurecesse antes de eu chegar a uma das saídas.



Pois não é que deu certo?

Depois de uns arranhões de cacto e de umas picadas bobas de insetos, acabei na Avenida dos Mortos, mal comparando uma espécie de Presidente Vargas lá deles.

Daqui, era só seguir em frente.

Eram 18h30, meia hora antes do pôr do sol.

E, por incrível que pareça, exatamente o horário combinado com o grupo. Os outros, porém, acharam tudo rústico demais e recolheram-se ao ar refrigerado da van bem antes de mim.

Na volta para os respectivos hotéis, passamos pela Basílica da Virgem de Guadalupe, civilizada, cheia de gente e de confortos modernos; mas eu já estava com saudades das minhas pirâmides ameaçadoras, dos meus passarinhos e da sensação de estar perdida num dos lugares mais impressionantes da face da terra.

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