Paulinho e o blackout:
um relato eletrizante!
Paulinho, Kelyndra e as crianças moram perto de Detroit, área atingida pelo blackout. Aqui está o relato dele a respeito do gigantesco fudevu; tem data do dia 15, portanto "ontem" é dia 14:"Ontem, às 16:13, hora de Detroit, estávamos todos no trabalho quando tudo ficou escuro. Como trabalho na DTE Energy, cia. de eletricidade de todo o estado de Michigan, não demorou muito pra descobrirmos que o problema era um pouco mais sério do que uma simples sobrecarga do sistema. Com o que sobrava de carga nas nossas baterias de emergência, chequei o estado da grade elétrica. Tudo preto. Quase em unísono ouvi os meus 17 colegas:Devo acrescentar que Paulinho conseguiu falar alguns minutinhos comigo, ainda do carro, assim que começou o apagón. Logo a ligação caiu e nem com a ajuda da Embratel conseguimos falar de novo.
-- OH SHIT!
11 de setembro foi a única coisa que veio às nossas cabeças.
Empacotei o laptop e todos nós começamos a longa e extremamente quente descida dos 24 andares. Lá pelo andar 16, ouvimos gritos. Gente berrando, pedindo ajuda. No total, havia 23 pessoas presas nos elevadores! Mais tarde ouvi no rádio que só foram resgatados 6 horas depois!!!!!
Até entrar no carro, achei que o problema era só em Michigan. Como vocês agora já sabem, o caos era geral. O Kevin, um colega canadense que mora... no Canadá, entrou em pânico. A mulher dele está grávida, e o túnel para Windsor estava fechado. A espera na ponte, única alternativa pra ele, já era de mais de 4 horas.
O trajeto que, normalmente, levo de 30 a 40 minutos para cobrir, dessa vez levou 2 horas e 27 minutos. Todos os carros, voltando pra casa ao mesmo tempo.
Tentei falar com a Kelyndra pelo celular, mas não consegui conexão pois o sistema estava sobrecarregado. O pior é que ela estava isolada em casa com as crianças, sem a menor idéia da gravidade do problema. Finalmente consegui conexão e expliquei o que estava acontecendo. Mandei ela encher de água o maior número possível de panelas, copos, garrafas, baldes, etc. Em questão de minutos, faltou também a água.
Cheguei em casa com a temperatura lá dentro perto dos 40 graus, todo mundo suado, chorando e a Kelyndra quase se enforcando. Como todas as ruas e estradas estávam pra lá de congestionadas, não tínhamos nenhuma opção a não ser encarar a noite escura e quentérrima. É claro que, como não podia deixar de ser, tanto a Alicia quanto o Joseph resolveram que era a melhor hora pra ter assaduras.
Passei a noite em claro conectado à Internet (a conexão discada mais rápida de todos os tempos, pois tenho quase certeza que eu era o único na área com tanta bateria sobrando) tentando descobrir algum lugar perto da gente com energia elétrica e água. Depois de umas horas, consegui fazer uma reserva num hotel em Kalamazoo, Michigan, de onde vos escrevo.
Saí cedo de casa na esperança de ser um dos primeiros a chegar num posto de gasolina que, ouvi dizer, tinha gerador próprio e as bombas estavam funcionando. 2 horas e 45 minutos depois voltei pra casa vitorioso, de tanque cheio, pra pegar o resto da turma. Viagem que normalmente levaria 2 horas levou 7.
Hotelzinho bom, limpinho e cobrando os olhos cara, claro. Foi o melhor banho da minha vida!
O trabalho já me passou um bip dizendo: "Forget about showing up this weekend. Damage to data center is not yet known. Be prepared for very long hours on Monday though."
Eu, pessoalmente, acho que o trabalho vai deixar de ser um emprego muito em breve. Depois de duas tempestades catastróficas seguidas, e uma perda de quase 1 bilhão de dólares, sei direitinho o que vem pela proa: demissões. Vão vir com o velho papo de que não há como manter a empresa rodando depois de tanto prejuízo, etc e tal. Oh well! Já tava mesmo de saída!
Depois mando detalhes de como tudo se desenrolou.
Beijos eletrizantes,
Paulinho"
Se fosse aqui no Brasil a gente já estava esbravejando: Coisa de terceiro mundo!!!
O que é que se pode esbravejar lá no primeiro???
Nenhum comentário:
Postar um comentário