21.12.02



Tá fácil? Complica!

Escrito nas estrelas

Ao assistir a “Carga explosiva”, há duas semanas, o Bonequinho chegou à conclusão de que a certos filmes não convém levar a namorada. Ao assistir a “Escrito nas estrelas” (“Serendipity”), na semana passada, ficou torcendo para que ela retribua o favor na mesma medida e não lhe peça para ir junto.

Sara (Kate Beckinsale) e Jonathan (John Cusack) se encontram durante uma liquidação da Bloomingdale’s, disputando um par de luvas pretas — e algo acontece entre eles que transcende a raiva assassina que seria de se esperar entre dois consumidores estressados em véspera de Natal. Os dois saem juntos para uma noite romântica por excelência, em que cumprem todos os clichês do gênero, mas quando Jonathan pede o telefone de Sara, ela decide que a vida não pode ser simples assim.

Para complicá-la além de qualquer medida, e tirar do roteiro qualquer possibilidade de verossimilhança, ela escreve seu telefone num exemplar de “O amor nos tempos do cólera”, de Garcia Marquez, que venderá a um sebo no dia seguinte, pedindo a ele que anote o seu numa nota de cinco dólares que gasta imediatamente. Se um dia o livro chegar às mãos dele e a nota às dela, é que o destino desejava mesmo que ficassem juntos. Então tá.

Anos depois, noivos de outras pessoas, os dois continuam pensando um no outro. Durante esse tempo, livro e nota vão seguindo seus percursos perfeitamente ridículos, enquanto a gente fica se perguntando qual é o sentido daquilo tudo.

Mas esta é, lógico, a pergunta que não deve jamais ser feita numa comédia romântica. A idéia aqui não é ter sentido, mas despertar sentimentos — em geral, irritação com maridos ou namorados que, presos à vida real, jamais conseguirão, coitados, transportar suas amadas ao turbilhão de sonhos prêt-à-porter de uma bobagem dessas. Conformem-se, rapazes. Elas vão sair do cinema achando lindo...

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