7.5.02



A web em perigo

SÃO FRANCISCO -- "Nós demos o controle do futuro justamente às pessoas mais erradas. E, antes que se possa perceber o que aconteceu, a possibilidade de inovação terá desaparecido". A frase é de um dos meus ciber-heróis, o professor de direito Lawrence Lessig, de Stanford, um dos mais incansáveis batalhadores pela liberdade da internet, e está numa entrevista que ele acaba de dar à revista Business Week. Para quem está familiarizado com o trabalho de Lessig e, sobretudo, com o que anda acontecendo com o mundo digital aqui neste país (e, por tabela, no mundo inteiro) não há nada de novo. Mas enumeradas uma a uma como estão na entrevista, as atuais ameaças são aterrorizantes -- sobretudo porque têm tudo para se tornar realidade, com um Congresso que, de um lado, só faz se divertir com os jogos de guerra do indizível Bush e, de outro, está descaradamente vendido aos interesses dos grandes conglomerados de mídia.

Se nada for feito pela sociedade, em breve a internet estará nas mãos dos estúdios de Hollywood, das grandes gravadoras e das operadoras de cabo; e o indivíduo -- isto é, eu, você, e todos nós que fazemos a rede -- estaremos, mais uma vez, trancados do lado de fora, livres apenas para o que eles acharem que devemos fazer, ouvir, ler e assistir.

Para mim, o exemplo atual mais chocante é o da ameaça (muito real) que corre a deliciosa aventura do rádio na rede. Hoje, qualquer um cria a sua própria emissora com a maior simplicidade: as ferramentas e as músicas estão soltas, é só ter a paciência de arrumar a programação. Isso está dando à rede uma diversidade sonora jamais vista, criando nichos super-especializados e divertindo todo mundo. Mas, neste exato momento, o Congresso americano tem uma comissão chamada CARP (Copyright Arbitration Royalty Panel) que, ao que tudo indica, vai -- mais uma vez -- fazer o jogo das gravadoras, impedindo qualquer web-rádio de funcionar sem pagar quantias altíssimas à RIAA a título de copyright e, pior, fornecer-lhe uma lista detalhada de todas as músicas que estão sendo ouvidas, e por quem.

Em resumo: ainda que fosse viável, este modelo criaria uma patrulha musical inteiramente louca e arbitrária. O que está por trás disso tudo é, claro, o pavor que dinossauros como a RIAA e a MPAA têm de perder o controle total que, até a entrada da web em cena, sempre detiveram sobre a distribuição de bens culturais. As conseqüências deste monopólio a gente já conhece de sobra: basta ver o que está em cartaz nos cinemas, ou ligar qualquer estação de rádio para ver se tem alguma coisa que preste...

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