Pais à beira de um ataque de nervos
Como todo mundo, eu também estou chocada com o assassinato de Christina Long, a garota americana morta pelo brasileiro Saul dos Reis, em Danbury, nos EUA. Na verdade, tudo me choca nessa história, da promiscuidade e do abandono da menina pela família ao comportamento do cara, que diz que o assassinato foi "um acidente" enquanto faziam sexo (mas que tipo de sexo seria esse?!), passando pelas conseqüências terríveis (possível pena de morte) e, mais uma vez, pelo comportamento histérico e ridículo da imprensa, que ainda não se cansou de fazer estardalhaço com a internet, como se a rede fosse um antro de perversidade e devassidão.Como todos nós estamos cansados de saber, até pode ser, sim -- mas exatamente como qualquer outro lugar. Tudo depende do que a gente quer e de quem a gente procura, tanto na vida virtual quanto na vida real.
Como sempre acontece cada vez que a rede é apontada como origem de todos os males a rondar crianças e adolescentes, recebo, lá no jornal, um monte de cartas de pais e mães revoltados e/ou preocupados com os riscos da vida online. E, como sempre, a minha resposta é a mesma: assim como pais e mães têm que se interessar pelos filhos e saber por onde eles andam na vida real, têm também que prestar atenção ao que fazem na rede. Quem foi que disse que ter filho não dá trabalho?!
O ideal seria, naturalmente, que pais e filhos tivessem diálogo suficiente entre si para que os adultos pudessem ficar tranqüilos quando os meninos estão no computador. Para pais menos abertos, ou com menos tempo para conversar, há ferramentas de sobra para garantir que saibam o que os filhos andam fazem na internet. Usá-las ou não é uma questão pessoal, que envolve uma quantidade de dilemas éticos de difícil resposta, a começar pelo direito à privacidade: uma criança tem direito à privacidade online? Se não tem, até que idade deve ser vigiada? E, se pode ser vigiada, será correto vigiá-la sem que ela saiba disso?
Eu, pessoalmente, sou contra qualquer forma de vigilância secreta: acho que as crianças devem ser orientadas pelos pais, e devem saber que eles estão atentos ao que elas fazem: aquilo, enfim, a que, antigamente, se chamava dar (e cobrar) educação. Entendo, porém, que haja pais que prefiram não apostar inteiramente no diálogo -- e que, em alguns casos, seja útil e importante saber o que anda acontecendo no computador da casa.
Para esses pais, há, basicamente, dois tipos de programas de vigilância. O mais conhecido talvez seja o eBlaster, um programa alcagüete, que trabalha escondido do usuário e envia relatórios periódicos para um endereço de email especificado no setup. Em outras palavras, você pode ficar sabendo quais são os websites que seu filho visita, que programas ele usa, o que tecla e de que chats participa, palavra por palavra, sem sequer estar em casa. O software é produzido pela Spectorsoft, custa US$ 70 e é, convenhamos, uma baixaria. A tal ponto que, em alguns estados americanos, só pode ser instalado na máquina do próprio comprador, o que inviabiliza seu uso, por exemplo, para ambientes de trabalho. Ainda bem!
Uma opção mais razoável, menos malsã e, também, menos conhecida, é o Lighthouse, que trabalha decentemente, às claras. Ele registra o que cada membro da família anda fazendo na máquina, e pode, suponho, até funcionar como uma espécie de Grilo Falante, uma "consciência artificial" que, pela sua própria presença, inibe certos tipos de comportamento. Ele é produzido pela Guiding Light, e custa US$ 30.
Mas que ninguém se iluda. Esses programas podem até "dizer" aos pais o que os filhos estão fazendo, mas nada jamais vai substituir uma relação franca e saudável, baseada em confiança mútua. E, para isso, sinto informar, ainda não há tecnologia disponível.
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