18.12.01




Uma carta antiga

Estava limpando a minha mailbox no jornal (nesse momento 1266 itens, 246 não lidos na caixa de entrada) quando, mudando uma msg de gaveta, encontrei esta carta aqui, que mandei para um leitor há vários meses. Não encontrei a carta que deu início à série, mas pelas minhas respostas dá pra adivinhar mais ou menos o conteúdo da dele. Tudo continua valendo, inclusive a máquina, que ainda não troquei, e que divide as honras da casa com uma Kodak 4800:

Em primeiro lugar, muito obrigada pela msg, que levanta alguns pontos de fato importantes.

Em segundo, deixe-me falar-lhe um pouco de uma das minhas, digamos, "encarnações anteriores": comecei a vida profissional como fotógrafa (e não repórter) há (triste, mas verdadeiro) uns 30 anos [mas comecei cedo às pampas! era menor de idade...], com uma velha Nikon de redação, muito maltratada. Mas com fotografia mesmo comecei antes ainda, criancinha, já que meu avô materno era fotógrafo, apaixonado por Rolleis. Aprendi a fotografar numa Planar 2.8 que mora lá em casa até hoje (junto com centenas de negativos preciosos do meu avô, boa parte deles -- feitos durante a Primeira Guerra -- ainda em vidro). Não tenho mais idéia de quantos filmes revelei, quantas cópias fiz e, coisa mais rara, quantos negativos cheguei a retocar -- meu avô era mestre nisso, e aprendi muito com ele. Tive uma boa escola, pode acreditar.

(....)

Fiquei sem laboratório em casa; a qualidade das cópias cor de 90% dos laboratórios é indigente (para ser boazinha) e P&B é coisa dificílima de achar quem faça bem. E aí acabei deixando tudo de lado.

Até que apareceu a fotografia digital. No começo, a situação era triste. Minha primeira câmera, uma Olympus D320L, tinha, se não me engano, 640 x 480, ou seja, nada, em termos de cópia em papel; mas no monitor o resultado já era mais que bom, e aí é que está, na verdade, o grande barato da foto digital. Seu objetivo primordial não é virar cópia em papel (isso qualquer xereta ainda faz melhor, e a um preço infinitamente mais barato) mas sim arquivo digital, que se transfere de cá para lá instantaneamente, sem problemas. Este arquivo pode, sim, virar cópia. Mas isso é "também", e não "necessariamente"... Hoje, a minha máquina mais nova, uma Sony P1, tem uma resolução de 3.3 megapixels, o que dá belas cópias de 13 x 18 (mas dificilmente uso essa resolução toda e/ou faço cópias; faço álbuns digitais, cujos endereços distribuo entre os amigos espalhados pelo mundo).

Finalmente, a sensação do "foi feito por mim" -- desculpe, mas aí está, justamente, um dos aspectos mais divertidos da foto digital! Nunca se pôde brincar tanto, e tão facilmente, com uma imagem. A maioria das pessoas só está fazendo barbaridades? Só -- mas, antes, essas mesmas pessoas não faziam nada com as suas fotos! Mesmo quem detesta computador está aproveitando a tecnologia. Mamãe, por exemplo, se diverte com aqueles quiosques da Kodak, em que se podem fazer ampliações, pôr molduras nas fotos e assim por diante; vira e mexe descobre alguma coisa no fundo do baú e traz pra mim e pra minha irmã.

Concordo 100% com o que vc diz a respeito da qualidade das lentes "de verdade"; mas veja que fotografia não é isso *ou* aquilo, e sim isso *e* aquilo. Assim podemos todos, felizes, nos divertir com as nossas respectivas visões e/ou ambições fotográficas. Hoje em dia me realizo fazendo instantâneos da minha família, dos meus amigos, dos meus gatos. Adoro clicar as coisinhas básicas do dia-a-dia: a vista da janela, a gente da fila do ônibus, a praia. Não é Grande Arte, mas é muito bom, e acho legal dividir essa alegria digital com os leitores.

Bom, não se pode acusá-lo de falta de senso de humor; vejam o que respondeu:

Quando é que a competição de ensinar padre nosso ao vigário vai estar nas Olimpíadas? Sou mestre nisso.

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