4.12.01




Nós na rede: os nós da rede

A meu ver, uma das grandes vantagens da explosão da bolha assassina da “Nova Economia” foi acabar com a idéia de corrida do ouro que se havia formado em torno da rede — uma espécie de fundamentalismo tão malsão quanto o dos tempos em que apenas mencionar assuntos comerciais era o suficiente para queimar o filme de um usuário para o que parecia ser, então, o todo sempre.

Entre uma ponta e outra podemos, agora, começar a ver a rede como ela de fato é, o que significa acompanhar o seu desenvolvimento sem ilusões descabidas, mas também sem preconceitos ingênuos.

Uma das características da rede que sumiu de vista durante o frenesi da bolha foi a sua imensa base de sustentação artesanal — as páginas pessoais, os fóruns de discussão da Usenet, os pontos de encontro e de idéias. Era como se, subitamente, tudo estivesse vinculado aos grandes portais, herdeiros de serviços como o Genie, o Compuserve ou a AOL, antigas redinhas domesticadas e subservientes aos valores familiares do American Way of Life. De repente, tudo — chats, fóruns, websites pessoais — passou a ostentar um logo corporativo qualquer, para grande desgosto, diga-se, de quem conhecia a rede idealista dos velhos tempos.

Para a turma que travou contato com a rede através de portais e de super-produções online, contudo, era difícil imaginar que o sangue da internet corria pelas veias de pessoas físicas, e não de pessoas jurídicas; conseqüentemente, o grande sonho de todas as pessoas físicas recém-conectadas era tornarem-se pessoas jurídicas, regiamente remuneradas. Era como se nunca houvesse existido aquela rede artesanal, excêntrica, sem fins lucrativos — aquela em que, em tese, a voz solitária do indivíduo teria a mesma ressonância da voz das grandes corporações.

Curiosamente, quem está abrindo as cortinas e revelando o que, afinal, sempre esteve lá, são os blogs. Práticos, fáceis de usar e, neste momento, mania desvairada, eles estão ensinando aos novos internautas que a rede é, afinal, o que nós somos e, em última instância, o que queremos que ela seja. Quem ainda confunde ferramenta com mensagem, e acha que os blogs são apenas um modismo como outro qualquer, está dormindo no ponto, e faria bem em acordar. Os blogs são um fenômeno extremamente importante, o primeiro passo da retomada de um espaço fundamental da internet por quem de direito: todos nós.

Isso significa que os portais estão condenados? Que os grandes jornais online vão perder a parada para os nossos modestos veículos? É claro que não! O que muda é justamente a outra face da moeda, a chamada "opinião pública" — publicada, pela primeira vez, por quem tem opinião.

Direto ao consumidor, sem intermediários.

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