12.1.04



Mulheres apaixonadas


Quem diria: há um caso de amor entre as mulheres e os computadores, que até outro dia eram brinquedinhos essencialmente masculinos. Vejam só: a agência Conte com Elas, das publicitárias Maria Célia Salgado e Helena Lopes, que estuda o comportamento do público feminino, encomendou uma pesquisa sobre o universo delas, em que foram entrevistadas 600 cariocas.

Uma das descobertas mais interessantes foi que o curso que elas mais têm vontade de fazer é o de informática. Disparado! Para 32% das entrevistadas, ele é o must do momento. O inglês, num modestíssimo segundo lugar, conta com a preferência de apenas 7,6% das mulheres. As demais 60,4% estão interessadas num mundo pulverizado de assuntos: culinária (4,5%), cabeleireiro (3,8%), corte e costura (2,9%), pós-graduação (2%), decoração (1%), fotografia (0,9%), espanhol (0,7%)... É. Definitivamente, foi-se o tempo em que pintar porcelana era o máximo da aspiração extra-curricular feminina.

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A preferência pela informática faz todo o sentido. Primeiro, há uma noção muito clara, hoje, de que saber usar computador é fundamental para progredir no trabalho. Depois, mesmo para as poucas mulheres que não trabalham, ele é importante no relacionamento com os filhos. Finalmente, há tempos as máquinas deixaram de ser caixas pretas exclusivas para iniciados e viraram fontes de informação, lazer e comunicação.

Boa parte do interesse pode ser atribuída à internet. Não estar conectado hoje equivale a não ter televisão há algumas décadas; a percepção de que a rede é uma poderosa aliada do conhecimento e do entretenimento já é, felizmente, geral.

A cada dia ouço mais e mais histórias de mães e avós que “não sabem nem programar o videocassete” e que, de repente, descobriram as alegrias da vida online. Compreendo perfeitamente. Eu também não tenho nenhuma paciência com o videocassete, mas não troco minha banda larga por nada...

Trrrim... trrrim... zapt!

Enquanto parte dos 45,5 milhões de usuários de telefones celulares no Brasil nunca chegou a ter telefone fixo (40 milhões de aparelhos), nos Estados Unidos muita gente está desistindo das linhas fixas, e adotando o celular como única alternativa da casa. 3.1% dos lares em que as duas tecnologias conviviam cortaram o fio de vez no ano passado. Motivo? Uma conta a menos para pagar, e custos bem mais razoáveis para as chamadas de longa distância: em 2003, 43% de todas as ligações interurbanas feitas no país foram proveniente de telefones móveis — e esse percentual tende a crescer. A informação é de pesquisa do Yankee Group.

Inferno zodiacal

Passei uma semana horrível, às voltas com uma epidemia de problemas nas máquinas. Um HD de 120Gb da Seagate morreu com menos de três meses de uso (!), uma fonte — já velhinha — subiu no telhado, um drive se recusou a ler CDs e até uma placa-mãe resolveu se portar como placa-madrasta.

Enquanto isso, o notebook velho de guerra se cansou de vez das misérias do mundo e desistiu de tudo. Pode parecer engraçado no papel, mas garanto que, na vida virtual real, não tem nada de divertido.

No momento, me sinto em suspenso, tentando juntar os cacos hi-tech para poder começar o ano direito.

A RIAA parte para a luta (quase) armada

Depois de protagonizar centenas de batalhas judiciais em torno do download de músicas, a RIAA (Recording Industry Association of America) resolveu partir para a luta (quase) armada. No final do ano passado, espalhou esquadrões de ex-policiais vestidos a caráter para caçar piratas nas ruas da Califórnia. Usando uniformes em que as siglas da polícia de verdade são substituídas pela abreviatura da associação, os rapas da RIAA têm tido extraordinário sucesso em fichar vendedores de CDs piratas e em fazê-los entregar a mercadoria “voluntariamente”.

Pudera não: imaginem que resistência podem opor àqueles armários com cara de polícia, jeito de polícia e roupa de polícia os mexicaninhos que habitualmente vendem a muamba em Los Angeles...

Embora seja questionável a criação de uma polícia paralela por uma associação civil, o problema é do Schwarzenegger. Ainda que a forma escolhida para fazê-lo seja no mínimo esquisita, dessa vez, pelo menos, a RIAA está indo em cima de quem deve, ou seja: do povo que lucra com pirataria, faturando em cima do trabalho alheio. Antes isso do que correr atrás de estudantes ou de fazer pressão sobre provedores de acesso.

Até hoje, passado tanto tempo, continuo achando que a RIAA fez a maior besteira da história da internet ao fechar o Napster. Em vez de se unir ao sistema então incipiente, em que teria tido uma das mais fabulosas ferramentas de marketing de todos os tempos, fez um escarcéu, pôs o Napster nas manchetes, chamou a atenção do mundo inteiro para as péssimas relações entre artistas e gravadoras e para o MP3 (até então um barato de iniciados), recusou acordos, gastou uma fortuna incalculável em custos judiciais e, finalmente, dispersou a turma, até então reunida num único ponto, por dezenas de sistemas P2P espalhados pelo mundo.

Haja talento.


(O Globo, Info etc., 12.1.2004)

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