Fotolog: uma comunidade à
beira de um ataque de nervos
É triste, mas é verdade: o Fotolog está começando a perder a graça. Não porque não seja mais interessante postar fotos, ver as imagens dos outros ou trocar comentários; mas exatamente porque, na maior parte do tempo, tem sido impossível fazer isso.
O número de mensagens de erro, páginas não carregadas e bugs do sistema, geralmente aceitos como “dores de crescimento” e tolerados com santa resignação pela maioria dos usuários, está ultrapassando os limites da sua paciência. Ao longo das duas últimas semanas, alguns dos fotologgers mais ativos e criativos, tipo “esteio-da-comunidade”, simplesmente publicaram mensagens de adeus e tiraram o time de campo.
Outros, menos radicais — ou mais “viciados”? — têm reclamado nas áreas de comentários e nos grupos de discussão, e postado os protestos mais variados. O clima geral é de tristeza, irritação e, principalmente, frustração. Dessa vez, não apenas em relação à impossibilidade de se subirem imagens ou se navegar pelo sistema, mas também em relação à própria administração do Fotolog e à rotina das suas mensagens à comunidade, que pode se resumir no seguinte:
“O sistema está ruim porque estamos acrescentando mais servidores”.
A essa altura já é óbvio para todo mundo que apenas mais servidores não resolvem a parada. Aliás, mais servidores, sem uma reestruturação que otimize e racionalize o seu serviço, não resolvem parada alguma, em nenhum lugar. Há consenso, entre os fotologgers que vêm discutindo a questão, de que está na hora de parar para balanço, de fechar a porteira e não permitir novas inscrições, pelo menos até que o sistema volte a funcionar direito para os quase 300 mil atualmente cadastrados. Afinal, de que adianta ter 291.820 (sexta-feira, 21h39, horário de Brasília) usuários insatisfeitos?!
Há outras questões aborrecendo a comunidade — ou, pelo menos, aquele núcleo básico em torno do qual foi crescendo o sistema. A página de abertura, grande trunfo do Fotolog quando ainda tinha poucos usuários, não atende à atual realidade do sistema; não há uma ferramenta de busca; e, apesar do Brasil ser hoje responsável por mais da metade do movimento, não há ainda, sequer, a possibilidade de se separar os fotologgers brasileiros por estados.
Acontece que o Fotolog, como tantas outras comunidades virtuais, parece estar sendo vítima do seu próprio sucesso. Os administradores têm gasto o tempo e os recursos de que dispõem (e que não são muitos: apenas 1% dos usuários paga pelo serviço) para correr atrás do seu crescimento desordenado, acrescentando mais e mais servidores... para que mais e mais pessoas possam se frustrar ao mesmo tempo.
Eu sei que é bem mais fácil falar do lado de cá do que fazer do lado de lá, mas talvez fosse mais sensato guardar a energia (e a grana) para consertar os bugs, melhorar o sistema e dar, aos fotologgers que já estão a bordo, a sensação de que a viagem continua valendo a pena. Afinal, o Fotolog não é uma comunidade virtual qualquer, mas sim a mais interessante das experiências online, a verdadeira aldeia global que a gente sempre sonhou encontrar na internet mas que, até aqui, nunca havia se concretizado. Seria uma tristeza só perder um mundo paralelo tão cheio de encantos.
(O Globo, Info etc, 2.2.2004 -- é, hoje vocês estão lendo aqui primeiro... ;-) )
{Pronto, ric!}
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