10.3.03




Cotton.BAK
1994 - 2003

Ontem, assim que eu terminei de subir as fotos do desfile, telefonaram do veterinário para avisar que o Cotton estava morto. Ele havia sido internado no sábado, muito fraco e com todo o jeito de gato que comeu uma barata detetizada, mas nunca imaginei que pudesse estar correndo risco tão sério.

Fui para o carnaval relativamente despreocupada. Insetos envenenados já aconteceram antes na Família Gato, e foram tirados mais ou menos de letra, com alguns dias de soro e tratamento adequado. Além disso, depois do que aconteceu com a Pipoca, passei a acreditar piamente em milagres felinos.

Mas o meu Gatinho querido, coitado, não teve a mesma sorte. Foi embora tão rápido que nem deu tempo ao dr. Jaime de tentar fazer alguma coisa por ele. A Bia resumiu a nossa perplexidade:

-- Mas o que foi isso, bala perdida?!

Estamos todos, bípedes e quadrúpedes, tristes demais. O Cotton era o mais carinhoso dos gatos, um eterno filhote carente que vivia pedindo colo; daí, aliás, seu apelido de Gatinho. Gostava de ficar em cima da escrivaninha fazendo concorrência ao mouse pad ou, quando eu ia dormir, espichado na cama, bem ao lado da minha cabeça. Eu brincava com ele:

-- O que é que você acha que é, um travesseiro anti-alérgico?

Ele se fazia de desentendido. Afinal, aquela era a cama dele que, por excepcional gentileza, a dividia comigo, com a Keaton e com algum outro gato que, durante a noite, resolvesse tirar um cochilo -- em geral a Tati, que adorava. Os dois nunca perderam a relação mãe e filho, e estavam sempre juntos. Tati detesta gatos, mas para ela o Cotton pertencia, evidentemente, a uma outra espécie.

Agora ela está aqui na escrivaninha, ao meu lado, tão órfã do Gatinho quanto eu.

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