31.7.10

Anotações de viagem

Depois de dois dias, começamos a desenvolver uma rotina local. De manhã Mamãe e a Vera vão treinar, à tarde passeamos. Essa tranquilidade acaba amanhã pra Vera, que tem uma primeira prova às nove, e pra Mamãe depois de amanhã. A essa altura já encontramos diversos outros brasileiros, e para onde quer que se olhe há nadadores, jogadores de water-polo, saltadores e gente de água de modo geral. Alguns andam com o uniforme das suas equipes (pergunta se o Brasil tem algo sequer remotamente parecido), outros a gente reconhece por camisetas ou agasalhos de competições passadas, ou ainda pelo crachá, que dá direito a andar no transporte público local.

Há também quantidades escalafobéticas de cartolas, acompanhados de família e agregados. Esses a gente reconhece pelos agasalhos e bolsas esportivas caríssimos da FINA, e pelo sorriso de orelha a orelha -- eles vêm com tudo pago, têm diária e vouchers para refeições caprichadas. Não é à toa que quando um cara se elege pra diretoria de uma federação qualquer, não larga o osso nunca mais.

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Gotemburgo tem uma vontade enorme de agradar e de ser amada -- há mil atrações turísticas escavadas do nada, como o tour de barco que fizemos à tarde, ou como os inúmeros museus dedicados a tudo o que se possa imaginar. Há escritórios de informação para turistas nos pontos mais relevantes, todos muito bem equipados com mapas e folhetos das principais atrações, mais lembrancinhas de todos os tipos à venda. Detalhe: cada mapa indica qual é o transporte que se deve pegar para qual atração, onde se desce, qual é a conexão. E tudo funciona.

O contraste com o Rio é chocante. Aqui há uma cidade sem qualquer vocação turística dando o melhor de si, desfilando, gritando pra gente sem parar: "Olhem pra mim! Olhem pra mim!"; no Rio, temos a cidade mais linda do mundo, virando as costas e dando uma banana para quem chega. Gotemburgo dá a impressão de que, com um mínimo de esforço, poderia perfeitamente organizar uma Olimpíada; já o Rio...

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Hoje, além do sight-seeing de barco, que foi engraçado, andamos um bocado pelo centro e exploramos as redondezas do hotel. Há um supermercado à direita e, em frente, fica o cinema com telhado de grama. Entramos só para ver como era por dentro, porque assistir filme com legenda em sueco -- para não dizer dublado! -- é complicado.

O espaço é enorme. São 13 salas, e os filmes, tirando alguns de títulos indecifráveis, são mais ou menos iguais aos que estão em cartaz no Rio. No setor de guloseimas, há uma parede inteira daquelas balinhas a granel que a gente escolhe e mistura à vontade, há baldes de pipoca que não deixam nada a dever aos cinemas americanos, e há um salgadinho delicioso meio parecido com o antigo mandiopan, mas mais crocante e levinho. Há também um suco de pera que é tudo de bom. O mais estranho é que não se vêem muitos suecos gordos.

Por outro lado, vê-se muita gente em cadeira de rodas, de pessoas que precisam até de sistemas de ventilação a paraplégicos muito habilidosos na direção de cadeiras motorizadas. Não acredito que haja mais pessoas com necessidades especiais aqui do que no Brasil; o que me parece é que as condições para que um cadeirante saia às ruas aqui são muito melhores.

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Hoje foi um dia chove-não-molha, com direito até a um pouquinho de sol. Ficamos todas animadas, mas a previsão da noite nos tirou a animação: amanhã chove, com máxima de 20, mínima de 16.

A nossa brincadeira particular agora é lembrarmos umas às outras, frequentemente, que é verão. É que, se não for assim, corre o risco de a gente nem reparar.

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Pessoas, muito obrigada pelos votos de feliz aniversário!

Eu nunca imaginei que, um dia, eu passaria um aniversário em Gotemburgo. Também não imaginaria que, em passando, ele fosse tão gostosinho; mas na companhia da Mamãe não tem erro, e com o auxílio luxuoso da Vera, então, tudo fica uma beleza.

Foi um dia muito lindo, de que vou me lembrar para sempre.

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