Um autêntico (quase) carioca
Recebi muitas cartas no jornal por causa da crônica de ontem, que tocou particularmente descendentes de estrangeiros que, por um ou outro motivo, vieram a dar com os costados no Brasil.Uma das mais curiosas foi a da Akemi Ono:
Meus pais também são imigrantes, só que meu pai veio em 1956, no pós-guerra, sozinho, com a vontade da juventude e o não compromisso de segundo filho (o irmão mais velho é o que herda tudo, a casa, a tarefa de receber toda a família nas festividades sagradas, de cuidar dos pais e da história da família).Não é uma delícia? Um dia desses vou a Vila Valqueire só para conhecer este padeiro botafoguense...
Foi primeiro para São Paulo (Atibaia e Mogi das Cruzes), mas decidiu viver no Rio de Janeiro -- "já que estou no Brasil, por que viver no meio de japoneses?" -- e também depois de ter visto o Garrincha jogar no Maracanã.
Meu pai até nisso inovou -- diferente dos japoneses fluminenses do Rio (pela proximidade da antiga Embaixada do Japão que ficava em Laranjeiras), é botafoguense. E roxo.
Hoje em dia ele tem uma panificadora que fica aos fundos de nossa casa em Vila Valqueire. Meu irmão o auxilia, sem pressões, foi uma coisa natural. Adoro contar aos amigos que meu pai é um japonês padeiro, imagem atribuída aos portugueses. Também enfrentou concorrentes e quase falimos não lembro quantas vezes. Mas continua até hoje, com 73 anos.
Esse pai, que soube mais tarde ter sido um adolescente rebelde, que quando se estabeleceu no Rio encomendou uma noiva (minha mãe), tem um nome muito complicado. Na fábrica os empregados adotaram nomes brasileiros, e nem eles próprios sabem mais quem os nomeou: Seu Jorge e Dona Kátia.
Abraços da Akemi Ono, orgulhosa da decisão do pai de vir morar no Rio e ter filhos cariocas.
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