Fashion Rio: quando a crônica se faz de retalhos
O mundo gira, a Lusitana roda e a Fashion Rio, que durante uma intensa semana parece o centro do universo, ou pelo menos do Rio de Janeiro, some na poeira das estrelas, entre top models que voam para os próximos desfiles e roupas que, cumprido o seu destino, vão para cabides, gavetas, araras e vitrines, já retalhos do passado na cabeça dos seus criadores -- estressadíssimos, todos, com a próxima estação, e o que será a nova novidade daqui a seis meses.Para quem teve que escrever a crônica de quinta-feira na terça em que o fuzuê mal começara, como é o caso da vossa escriba, a Fashion Rio ainda é algo vivo e real, dando voltas na cabeça e pulando corda com Tico e Teco, entre pontos de exclamação e, sobretudo, de interrogação.
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Mesmo agora, por exemplo, que já sou quase uma veterana, com quatro Fashion Rios no currículo, não consigo entender a lógica dos comerciais que antecedem os desfiles. Sim, eu sei que um evento deste porte não se faz sem patrocinadores; e sim, sei também que patrocinadores patrocinam eventos para expor a marca e para mostrar que, ora, são os patrocinadores da coisa.A marca do patrocinador deve ser vista, naturalmente, pelo maior número possível de pessoas. O patrocinador faz questão de deixar claro que, sem o seu patrocínio, nada daquilo seria possível -- fato pelo qual, supõe-se, o maior número de pessoas possível passará a olhar para a marca do patrocinador com olhos cheios de gratidão pela generosidade que permitiu a realização de tão arrebatador evento.
Até aí o meu raciocínio vai.
Acho natural que nas tendas onde se realizam os desfiles, nos impressos e em cada canto para o qual se olhe se vejam os logotipos e marcas dos patrocinadores. É justo e, como pessoa que muito se encanta pelas belas coisas realizadas na sua cidade, só tenho a agradecer às empresas que permitem que, a cada seis meses, eu possa me divertir com as modas.
Só não entendo por que as pessoas que já viram as marcas dos patrocinadores espalhadas por toda a parte são obrigadas a assistir, antes de cada desfile, ao replay do mesmíssimo comercial de cada um dos patrocinadores. No primeiro desfile a gente ainda agüenta; no terceiro, quer cortar os pulsos. Agora imaginem como não se sente quem, por obrigação profissional, tem que assistir a 40 desfiles?!
Imaginem, se forem capazes, o ódio que cresce até no coração da mais meiga criatura à quadragésima repetição do mesmo anúncio, no curto espaço de cinco dias?!
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Senhores patrocinadores da Fashion Rio, por favor, tenham piedade dos jornalistas, dos profissionais da moda e do público em geral que tanto ama o evento pelos senhores patrocinado! Garanto que as suas marcas estão vivas nos nossos corações, e creio que não exagero ao dizer que somos todos infinitamente gratos pelo patrocínio, mas acreditem: mais ainda seríamos se fôssemos poupados dos filminhos que, como curtas obrigatórios, nos são impingidos a cada desfile.Nunca vi moda em Paris, Londres ou Nova York, mas amigas sofisticadas que já viram de tudo no mundo me garantem que isso não acontece em nenhum outro lugar. O que posso asseverar, por ter visto, é que até ali na esquina, em São Paulo, o pessoal já se tocou para esta bobagem provinciana e poupa o distinto público de tal perrengue.
Certa de vossa compreensão, antecipadamente agradeço qualquer consideração da questão para as próximas edições da nossa linda festa.
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E, por falar em linda festa, fica aqui o meu protesto, entre tantos, pela destruição do esplêndido gramado do MAM. Sei que a Fashion Rio não teve nada a ver com a barbárie, herdada do TIM Festival, que armou uma tenda exatamente em cima do gramado com o desenho das pedras portuguesas de Copacabana, obra tombada de Burle Marx -? mas, santos céus, em que mundo estamos?!OK, ninguém precisa responder, a pergunta é apenas retórica; mas o que é que passa pela cabeça de alguém para detonar daquela forma um dos jardins mais bonitos da cidade?! E que prefeitura insensível é esta que autoriza semelhante loucura?! Em nome de que se manda para o espaço um gramado que é cara do Rio?!
Aliás, pensando bem, a resposta a esta pergunta está na sua própria formulação.
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Do ponto de vista positivo, palmas para o lounge do Sebrae, sempre inovador, desta vez com o look da periferia bem-humorado do Gringo Cardia e um espaço bacana para as criações da Daspu. Ao contrário da Daslu, que só teria a ganhar abraçando a ONG da valente Gabriela Leite -- mas preferiu abrir fogo contra moças humildes feridas pela vida -- o Sebrae provou que tem coração, coragem, compaixão e solidariedade.(O Globo, Segundo Caderno, 19.1.2006)
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