31.10.05
A Grande Pajelança
Para mim, a Futurecom é uma espécie de Grande Pajelança das Telecomunições. Durante três ou quatro dias reúnem-se em Florianópolis todos os executivos de operadoras, fabricantes de equipamentos, altos funcionários do governo, jornalistas da área.Há palestras básicas, ao alcance da compreensão de qualquer interessado; há coisas cabeludas que só interessam, e só são compreensíveis, a engenheiros de telecom com uns três títulos de pós-graduação. Há muito ôba-ôba, algumas festas e, sobretudo, há uma ótima oportunidade para se encontrar as pessoas do setor, ver o que vai ser lançado ao longo dos próximos meses e conferir para que lado sopram os ventos.
Há muitos fabricantes de produtos pesados, muitos negócios de infra-estrutura mas, para nós, usuários, o que interessa, em última instância, é o que vai chegar às nossas mãos, e por quanto.
Há poucas coisas mais pessoais, hoje, do que um celular -- o aparelho que está sempre ao lado do dono, mesmo quando ele deixa todo o resto do seu arsenal tecnológico em casa. Isso explica a imensa variedade de modelos e desenhos em que os fabricantes estão apostando.
A Motorola, consciente do poder de atração do Razr (o mais fino dos aparelhos e, para mim, o mais lindo de todos), apresentou um sem número de variantes em torno do seu design, de um modelo CDMA -- para acabar com a inveja dos usuários Vivo -- a um modelo pink, desconcertante para quem está habituado aos discretos pretos e pratas do mercado.
Os usuários Vivo, por sinal, terão boas surpresas.
Depois de um ano de vacas magras, em que pouquíssimos telefones realmente interessantes foram lançados no mundo CDMA, há uma fartura de aparelhos poderosos e bem desenhados chegando às lojas do bonequinho transparente. O 6265, da Nokia, um slide de linhas limpas e elegantes, tem não só uma câmera de 2Megapixels como, ainda por cima, tela com 262 mil cores, o que oferece uma definição assustadora. Ele é um objeto de desejo até para os mais mimados usuários de celulares GSM, que sempre têm uma escolha maior à sua disposição.
Ninguém quer falar em preços. A concorrência anda claramente cabreira com a Claro, que tem vendido celulares a preços de fato baratíssimos; é ela quem vai dar o tom das vendas do Natal que se aproxima.
E, pelas esquinas, descobrem-se segredinhos úteis e interessantes: o limite de cem músicas do Razr, imposto pela Apple para evitar a concorrência com seu próprio iPod, não é nada que um hacker com um mínimo de know-how não resolva.
Ah, essa garotada incorrigível...!!!
(O Globo, Info etc, 31.10.2005)
PS pro blog: as fotos vocês já viram todas. Ilustrei a matérias com as próprias fotos de celular que mandava de lá. Me pareceu mais interessante cobrir uma feira de telefonia com telefones do que usando as câmeras "comuns", né?
Emergência geral!
Pessoas, o CCZ está LOTADO de cães e gatos abandonados; a única esperança para eles é a adoção. Há bichos de todas as cores, sexo, idade e temperamento.Todos estão vacinados e bem cuidados, mas o CCZ, como vocês sabem, é o fim da linha para os bichinhos abandonados, como esses das fotos.
Os melhores dias para adoção são as segundas, terças e sextas, quando os drs. George e Veronica estão no local. O CCZ fica no Largo do Bodegão 150, em Santa Cruz, RJ; os telefones são 3395-2142 e 3395-1595.
30.10.05
A vista do quarto
Ein-taum (com sotaque paulistano): antes de me mudar para este prédio, eu já morava aqui na Lagoa há um tempão, dois prédios mais para lá, na direção do Corte.
O antigo, na ponta de um desses grupos de edifícios de pilotis, tinha quatro apartamentos por andar. Eu morava na melhor coluna, a que fazia esquina. Tinha vista de frente pra Lagoa na sala, e vista lateral pra dita cuja nos dois quartos.
Eu vivia de olho neste prédio onde moro hoje, por ser então um dos poucos viáveis para mim; os vizinhos todos são um por andar, impraticáveis. Hoje este seria impraticável também; mas na época ainda não existiam os quiosques, a Lagoa era um lugar perigoso, havia mortandade de peixes, etc. etc. etc. E este tem dois apartamentos por andar e não tem garagem, só uma espécie de pátio comum de estacionamento.
Foi um longo namoro. Quando aparecia um apartamento legal eu não tinha grana, quando eu achava que tinha grana não aparecia apartamento nenhum... enfim, ao cabo de uns dez anos, fez-se uma conjunção astrológica favorável e pude vir pra cá.
A vista da pedra e do mato foi uma revelação, e uma novidade tão grande que passei muitos meses praticamente sem olhar pela janela da sala. Eu punha uma cadeira no quarto virada para a janela e ficava namorando o morro, que os gatos também adoram.
Os três quartos -- o escritório, o quarto da Bia e o meu -- têm essa vista.
De uns tempos para cá, uns pombos se estabeleceram numa das fendas da pedra, e ficam arrulhando. Os gatos estão convencidos de que é uma provocação. Se não houvesse a tela nas janelas, eles com certeza iam lá mostrar para aqueles bichos com quantos paus se faz uma canoa.
Antes iam se esborrachar lá embaixo, coitadinhos, Deus me livre -- mas não digo isso a eles não.
Digo apenas que é claro, que é lógico que ensinariam duas ou três coisas àqueles pombos safados.
Para começar o domingo de bom humor
Pondo a leitura da semana em dia, topei com essa história maravilhosa do Ribondi nos seus tempos de funcionário da Embaixada de Trinidad e Tobago em Brasília.Fiquei aqui rindo sozinha, feito uma idiota.
E os gatos olhando de banda, cabreiros, sem entender a piada.
29.10.05
Quantos somos?
Pessoas, temos um novo contador instalado aí no cantinho. Visualmente é igual ao anterior, mas foi feito pelo Rafael Cotta, que jura de pés juntos que jamais porá nele popups ou anúncios insidiosos; tudo o que ele quer é um modesto link pra o seu ótimo site de música Cifradas na Web.Valeu, Rafael!
28.10.05
Precisa-se desesperadamente: quem saiba dar comprimidos a gatos e possa hospedar uma gatinha linda por duas semanas
Escreve o querido Truda:"Tenho que ir a Angra dos Reis semana que vem para trabalhar na Festa Internacional de Teatro de Angra. Ocorre que a Preta contraiu uma rinite que a deixou com o nariz maior que o do Pinóquio e precisa tomar 1/4 de comprimido de Cetoconazol duas vezes por dia durante dois meses.
O problema é que as mulheres da casa, embora gostem das bichanas, têm ataques de nervos quando as gatas ousam subir no sofá ao mesmo tempo em que elas. Imagine pegar no colo e dar um comprimido! De modo que eu preciso achar uma amiga ou amigo dos gatos que possa ficar com a Preta por uns dez a quinze dias e dar-lhe o remédio. Se alguém puder ajudar, prometo uma camiseta da festa além de toda gratidão."
Identificado o vilão dos popups!!!
Escreve Eduardo Stuart:"Se lembra da queixa da Marcela sobre o surgimento de popups durante o acesso ao internETC? Naquela ocasião cheguei a imaginar que a máquina dela estava infectada com algum tipo de spyware e não dei muita atenção ao caso, exceto recomendar a instalação do Spybot Search and Destroy. Mas relendo alguns comentários antigos, ví que outra pessoa também se queixou e fui investigar para ver se realmente algum serviço agregado estava exibindo popups, mesmo que esporadicamente.De modo que sai o número de usuários online, um feature engraçadinho mas safado, que estava infernizando a vida de tanta gente.
E não é que está?
Pelo Opera, desativei o bloqueio de popups e acessei normalmente o site. Nada de estranho aconteceu nas três primeiras tentativas, mas na quarta surgiu um banner. Recarreguei o blog mais algumas vezes e a cada 3 ou 4 tentativas o banner aparecia novamente. Algo estava errado.
Fiz uma varredura nos serviços que estão instalados no blog e acabei descobrindo o vilão da história: é o Fast Online Users, que conta a quantidade de visitantes que estão no site naquele momento. Na seção de termos do serviço, existe a seguinte cláusula: "If this service is abused or have to many hits per hour, banners or popups could appear". Considero essa cláusula abusiva e traiçoeira, principalmente levando em consideração a popularidade do seu blog.
Como a maioria dos leitores deve ter algum tipo de proteção contra popups, é capaz que boa parte deles sequer viu um popup ou banner. Mas mesmo assim acho uma boa idéia retirar esse serviço do blog para evitar maiores dores de cabeça."
Então: não digo que o Eduardo é o máximo?! :-)
Deu na BBC
Deu na BBC Brasil. Se for verdade, é uma bela notícia! Amanhã, quando eu estiver mais descansada, vou procurar uma fonte confiável na imprensa italiana.Roma vai multar quem não levar cão para passearPor enquanto proponho o seguinte: vamos fazer um bolão? Quanto tempo levará o senhor Victor Fasano para arrancar da falida prefeitura carioca a verba para uma agradável temporada em Roma, estudando in loco a nova legislação?
Roma -- A cidade de Roma decidiu cobrar multas de donos de cães que não os levarem para caminhadas regulares. Quem cortar rabo e orelhas de cães também terá de pagar uma multa mínima equivalente a R$ 1,37 mil.
Será ilegal deixar animais de estimação trancados dentro de veículos no verão, colocá-los em vitrines de lojas, o uso de coleiras elétricas e com pontas e a oferta de animais como prêmio em festivais e feiras.
Aquários redondos que, acredita-se, cegam os peixes, também serão proibidos sob a nova legislação.
As normas têm o objetivo de proteger centenas de milhares de gatos, cães e outros animais que vivem na capital italiana.
-- A civilização de uma cidade também pode ser medida por isto, -- disse Monica Cirinna, vereadora que apresentou as propostas, ao jornal italiano Il Messaggero. -- É bom nós fazermos o que pudermos por nossos animais de estimação que, em troca de um pouco de amor, preenchem nossa vida com sua afeição.
Estima-se que existam 150 mil cachorros e 300 mil gatos na cidade, segundo a imprensa local.
As autoridades romanas também reconheceram oficialmente o papel de gente que alimenta colônias de gatos de rua.
Ainda não foi esclarecido como a nova legislação será implementada. Um setor da administração pública que cuida dos direitos dos animais prometeu divulgar as novas normas através de campanhas em escolas e consultórios veterinários.
Também serão recrutados novos funcionários para trabalhar com a polícia municipal.
O senhor Fasano, talvez alguns ainda se lembrem, é aquele ator de "América" que, nas horas de folga, exerce o cargo de Secretário Municipal de Promoção e Defesa dos Animais.
Enquanto isso, no Irã...
Não é só o Estado de Israel que está na mira dos repulsivos dirigentes iranianos. Qualquer cidadão que ouse expor sua opinião paga caro por isso; entre eles, naturalmente, estão os blogueiros.O Emerson resumiu a situação:
-- No Irã dos aiatolás os blogueiros continuam sendo presos. Presos, são torturados. Um deles foi condenado por um daqueles "tribunais" islâmicos e, entre outros mimos -- pois continua preso -- levou 30 chibatadas.
-- Seus terríveis crimes foram a criação e manutenção de blogs como esse da Cora e os nossos.
-- Blogs onde prisões de outros blogueiros foram denunciadas, levaram, por sua vez, os denunciantes à prisão. Outros foram presos por "ofensas" aos governantes. Ah, se lessem um centésimo do que falamos aqui sobre governantes, eles mesmos, inclusive... Creio que iríamos direto pro paredão.
-- O Committee to Protect Bloggers continua ativo.
27.10.05
o jardim da leila
do post sobre assombrações; foi a leila quem contou:"eu estava no meu apartamento novo. o ap tinha vista para a floresta, era em laranjeiras. Os moradores antigos jogavam lixo pela janela e fizeram um semi círculo de nojo na floresta. eu limpei tudo, deu um trabalho insano.
depois fui ao parque lage, lá estavam refazendo os jardins e muitas plantas foram arrancadas e iam morrer. eu catei quantas eu pude, maria sem vergonha, tinhorão, levei para onde tinha limpado e plantei lá as plantas que consegui salvar.
à noite veio em casa um amigo jornalista, ateu e comunista. Isso é importante para a história.
a gente não fumou nem bebeu nada... lá pelas tantas comecei a ver vagalumes vindos de direções diferentes. chamei o meu amigo, fomos pra varanda. os vagalumes eram muuuuitos e vinham de todos os cantos e se juntavam sobre o jardinzinho que eu tinha feito. ficaram um tempo rodopiando por lá e depois foram embora.
Meu amigo jornalista, ateu e comunista viu, ficou pasmo e nunca mais quis falar disso comigo! eu fiquei muito feliz :)
quando mudei de lá fiz um tesourinho, colares, um cabo de bengala de prata em forma e cisne, rendas e enterrei no jardim."
Keaton abre a porta para mim
A saga dos quero-queros
Constituir família entre humanos? Impossível...Há três ou quatro anos, um casal de quero-queros estabeleceu-se na minha vizinhança. Nos primeiros tempos, assim que avistavam alguém, davam gritos alarmados e voavam para longe, espantados com os estranhos; mas, aos poucos, foram se acostumando com pessoas, sobretudo com os habitués da casa. Mantiveram sua natural desconfiança dos cães, porém, e nunca foram com a cara da capivara. Sempre que ela aparecia, entravam em alerta máximo.
Com isso, aliás, me proporcionaram diversos encontros com a popstar da Lagoa, que entre meia-noite e uma da manhã costumava aparecer para beber água em frente de casa. Eu ouvia a alaúza lá de cima, descia, e dito e feito -- lá estava ela, imponente, com seu olhar altivo, como se perguntasse o que diabos havia de errado com aquele casal barulhento.
* * *
Como todo casal, aliás, os meus quero-queridos também sonham constituir família -- mas não têm dado sorte. Da primeira vez que notei um ninho seu, há dois anos, ele estava perigosamente próximo da Lagoa, e foi levado pelas águas nas primeiras chuvas.O segundo ninho que vi teve o mesmo destino.
Quando observei um terceiro ninho, achei que estavam progredindo: afinal, abandonaram a margem e foram para um cantinho mais alto, no campo de beisebol. Puseram três ovos e tudo ia muito bem, até que chegou o Natal e, com ele, a festa da árvore da Lagoa. Quando os operários começaram a erguer os palanques, ainda pedi a um dos responsáveis que tomasse cuidado com o ninho; mas, no dia seguinte, lá estava a construção, plantada sobre os restos do lar dos quero-queros.
Em agosto passado, novo ninho. O campo de beisebol está, como o resto da cidade, completamente detonado; e eu achei que, com os jogadores impossibilitados de treinar e o Natal ainda longe, eles tinham, enfim, uma boa chance de procriar. Puseram dois ovinhos. A essa altura, já eram vigiados por vários vizinhos. Um dia, quando desci para ver se tudo ia bem, encontrei um dos passarinhos machucado, se arrastando pelo campo com o que parecia ser uma asa partida ou uma perna quebrada.
Fiquei horrorizada. Quem teria feito aquela maldade?! Um senhor que passava parou também e lá ficamos, tecendo considerações sobre a insensibilidade humana.
Tirei várias fotos do meu quero-querido para enviá-las a um veterinário e pedir conselho. Ampliadas no computador, no entanto, as fotos não revelaram nada errado. Tudo estava no lugar. Intrigada com o mistério, peneirei a internet atrás de mais imagens de quero-queros -- para descobrir que era tudo fingimento! Os quero-queros desviam a atenção de possíveis predadores fazendo-se de feridos, e afastando-se cada vez mais do ninho, num desempenho digno de Oscar.
Mas isso não salvou os ovinhos, que um dia apareceram quebrados no ninho, como se uma bola houvesse rolado por cima deles (foto pequena, acima). Foi uma tristeza enorme para todos nós que estávamos na torcida; mas eis que, em setembro, ainda no mesmo ninho, eles puseram mais dois ovos, lindos, todos pintados.
Como os quero-querinhos levam cerca de 30 dias para se formarem, havia tempo de os filhotes nascerem antes da habitual confusão natalina. Enquanto eu estava na Europa, amigos me mandaram fotos e notícias do ninho: os pais finalmente estavam tomando tenência e, agora, reagiam com rasantes furiosos à aproximação de qualquer bicho ou pessoa.
Assim que cheguei fui visitá-los. Encontrei-os em pleno choco. Gritaram comigo e me ameaçaram, abrindo as asas e mostrando o poderoso esporão que trazem escondido; depois me deram uns rasantes ferozes. Fiquei encantada: com essa atitude, talvez conseguissem chegar ao fim da missão. Os filhotes são nidífugos, isto é, nascem prontos e logo fogem do ninho, como pintos ou patos; assim, talvez estivessem até a salvo dos cachorros que passeiam por lá.
Pelos meus cálculos, os passarinhos nasceriam esta semana; mas não tiveram esta chance. Foram assassinados no sábado à tarde. Quando fui conferir o ninho no domingo, encontrei-o vazio e cercado de pedras, como se alguém tivesse apedrejado os quero-queridos. De um dos ovos não havia sinal; o outro estava ali perto, quebrado, com um pedaço de pau ao lado. Dentro, o que restava de um miniquero-quero, com penas e tudo, prontinho para a vida.
Só não estava pronto, o pobrezinho, para o ser humano. Não há notícias dos pais.
(O Globo, Segundo Caderno, 27.10.2005)
Emergência felina!
Escreve a Aline:Há algumas semanas procurei dono para esta gatinha, de seis meses, que foi abandonada no lixo do Ceasa em São Gonçalo. Além de linda, ela é um doce, adora um colo e é muito carinhosa e tranqüila. Mas após duas adoções frustradas descobri que ela escolhe uma das pessoas da casa para dono e não deixa mais ninguém chegar perto. Passa a implicar com todos os outros integrantes da casa, sejam eles cães, gatos ou humanos.Aos solteiros da praça: pessoas, esta é uma autêntica sialata! Sialatas, como vocês sabem, estão entre os gatos mais bonzinhos (e ciumentos) do mundo; são carentes e ótima companhia -- no caso desta gatinha, pelo visto, excelente companhia, desde que a casa seja só dela e do seu bípede...
Tenho até quinta-feira (27/10) para conseguir outro bom dono para ela. Só que precisa ser alguém que more sozinho e sem animais! Sei que é difícil, mas vai ser horrível ter que devolvê-la à Ceasa depois dela ter tido dois meses de abrigo, comida e carinho...
Agradeço a todos.
Aline
9104-3001
Papo de hotel
Cá estou eu, de volta ao meu hotelzinho triste. Não é um mau hotel, mas jamais inspiraria um poema como "A um hotel em demolição", um dos meus Drummonds favoritos, que começa
Vai, Hotel Avenida, vai convocar teus hóspedes no plano de uma outra vida.e mais não sei, porque cito de cor e não consegui achar o poema na rede; mas não, ninguém jamais escreverá um "Vai, Hotel Íbis, vai convocar teus hóspedes..."
Eras vasto, vermelho, em cada quarto havias um ardiloso espelho
No way.
Enfim, vocês ficaram naquele papo de hotel lá embaixo e acabei me lembrando de uma viagem que fiz à Inglaterra, há tanto tempo que equivale a outra encarnação, e de uma estalagem onde havia um quarto mal-assombrado.
Quem conseguisse passar a noite lá dormia de graça.
Ninguém do grupo se aventurou mas eu, naturalmente, que não acredito nessas coisas, topei a parada. Quarto mal-assombrado, ha...
A estalagem era antiquíssima, uma das primeiras do país, e uma das mais bem conceituadas. Os quartos vinham sendo reformados com capricho desde a invasão normanda, ou coisa que o valha -- menos, naturalmente, o tal quarto que diziam mal-assombrado.
Pelo menos, foi essa a impressão que tive quando o porteiro me levou até lá.
-- Hmmm, tá, um trem-fantasma de época, -- pensei com meus botões, vendo os móveis pesados, a lâmpada de 25 velas, a pele de urso no chão. -- Nessa não caio.
Estava cansadíssima e caí sim, mas na cama. Pelo sim pelo não deixei a luz acessa; pelo tanto que "iluminava", não fazia a mínima diferença. Li um pouco, virei pro lado e tentei dormir. Estava frio às pampas, mas o edredon era bom e eu estava bem agasalhada.
Bom.
Vocês acreditam que não consegui dormir?! Na verdade, sequer consegui ficar no quarto. Não havia barulho de correntes se arrastando nem golpes de ar encanado, gargalhadas sinistras ou luzes bruxoleantes -- nada, enfim, daquelas coisas que a gente associa a fantasmas. Mas o diabo daquele quarto tinha, sem sombra de dúvida, a pior vibração que já experimentei na vida.
Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
No começo, fiquei com raiva de mim mesma, achando que estava me deixando influenciar pelo folclore da casa. Espantei os pensamentos malsãos da cabeça, li mais um pouco -- mas a angústia indefinida e secular que ocupava o espaço era muito mais forte do que o meu ceticismo.
Não cheguei a sair correndo porque, ora, tenho o meu orgulho, mas, lá pelas tantas, catei meus teréns e, de orelhas murchas e rabo entre as pernas, fui para a recepção pedir outro quarto.
O porteiro, que já contava com a minha desistência, tinha um prontinho me esperando. Não muito mais bem iluminado do que outro, não muito diferente em termos de decoração, mas... juro, normal.
Dormi feito uma pedra envergonhada e, no dia seguinte, fui alvo da gozação dos meus colegas. Até hoje não sei o que havia de errado com o quarto, que revirei todo e que parecia perfeitamente comum.
Pena que não me lembro mais do nome da estalagem. Eu achava que era The Feathers, em Ludlow, um dos hotéis mais antigos em que me hospedei, mas no seu website não há referências ao quarto mal-assombrado -- e não acredito que abrissem mão deste privilégio.
Afinal, na Inglaterra, um quarto mal-assombrado vale mais do que uma boa recomendação do Michelin.
Tudo bem, um dia eu lembro.
Durmam bem!
26.10.05
A balada do hotel triste
Estou hospedada num Ibis. Esta rede de hotéis, que faz o gênero "pobre mas limpinho", é essencialmente funcional: a diária custa R$ 95 e há uma geladeira no quarto que, inteligentemente, abastecemos com itens que compramos no bar -- o indefectível Suflair, as castanhas de caju, sucos, refrigerantes.O restaurante é um buffet sem sofisticação, mas de comida fresca e farta.
As paredes do quarto são amarelo claro e salmão, as cortinas verde claro. Há uma escrivaninha com várias tomadas bem colocadas, uma cadeira, um espelho, uma gravura que lembra uma aquarela européia mas não quer dizer nada, um armário minúsculo, uma TV de 20".
O banheiro é pequeno, branco, limpo, com uma excelente ducha. O sabonete é minúsculo, o shampoo idem; há uma tentativa de torná-los mais atraentes com flores estampadas na embalagem.
No hall do térreo, que é espaçoso e tem móveis claros mas pouco aconchegantes, há sempre grupinhos de hóspedes, geralmente homens, jogando conversa fora em torno de uns salgadinhos e umas cervejas.
O Ibis está longe de ser um hotel ruim; mas é dos mais deprimentes que conheço. Nunca fiquei num deles sem me lembrar de Willy Loman, o inesquecível caixeiro viajante de Arthur Miller.
Hotéis muito ruins às vezes me despertam a imaginação, e penso em tipos esquisitos, pessoas no fio da navalha; com sorte, alguns têm mais personalidade do que pulgas, e é até possível sonhar cenas diretamente saídas de Graham Greene em seus quartos e corredores.
Mas essa coisa medianamente média do Íbis me sufoca.
Enquanto escrevo vejo este mesmo quarto repetido ao infinito, sem nenhuma variação, cada qual com seu hóspede solitário que está aqui não por uma grande aventura ou por algo misterioso, mas para ir ali na Futurecom, ou onde seja, apresentar ou comprar um produto, e depois voltar para casa.
Ao mesmo tempo, tenho pena do Íbis, que no fundo é muito correto na relação custo x benefício, e faz um grande esforço para ser simpático, seja através da cordialidade dos funcionários, seja através de uns cartazinhos feitos para comunicar aos hóspedes que podem se sentir aqui como se estivessem em casa.
Não adianta.
A grande aventura do mundo não passa por aqui; nem sinal "dos propósitos que nos acariciam nos grandes terraços dos hotéis cosmopolistas e que doem por sabermos que nunca os realizaremos".
O único propósito que nos acaricia no Íbis é terminar logo o que temos a fazer na cidade e voltar para casa.
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