A balada do hotel triste
Estou hospedada num Ibis. Esta rede de hotéis, que faz o gênero "pobre mas limpinho", é essencialmente funcional: a diária custa R$ 95 e há uma geladeira no quarto que, inteligentemente, abastecemos com itens que compramos no bar -- o indefectível Suflair, as castanhas de caju, sucos, refrigerantes.O restaurante é um buffet sem sofisticação, mas de comida fresca e farta.
As paredes do quarto são amarelo claro e salmão, as cortinas verde claro. Há uma escrivaninha com várias tomadas bem colocadas, uma cadeira, um espelho, uma gravura que lembra uma aquarela européia mas não quer dizer nada, um armário minúsculo, uma TV de 20".
O banheiro é pequeno, branco, limpo, com uma excelente ducha. O sabonete é minúsculo, o shampoo idem; há uma tentativa de torná-los mais atraentes com flores estampadas na embalagem.
No hall do térreo, que é espaçoso e tem móveis claros mas pouco aconchegantes, há sempre grupinhos de hóspedes, geralmente homens, jogando conversa fora em torno de uns salgadinhos e umas cervejas.
O Ibis está longe de ser um hotel ruim; mas é dos mais deprimentes que conheço. Nunca fiquei num deles sem me lembrar de Willy Loman, o inesquecível caixeiro viajante de Arthur Miller.
Hotéis muito ruins às vezes me despertam a imaginação, e penso em tipos esquisitos, pessoas no fio da navalha; com sorte, alguns têm mais personalidade do que pulgas, e é até possível sonhar cenas diretamente saídas de Graham Greene em seus quartos e corredores.
Mas essa coisa medianamente média do Íbis me sufoca.
Enquanto escrevo vejo este mesmo quarto repetido ao infinito, sem nenhuma variação, cada qual com seu hóspede solitário que está aqui não por uma grande aventura ou por algo misterioso, mas para ir ali na Futurecom, ou onde seja, apresentar ou comprar um produto, e depois voltar para casa.
Ao mesmo tempo, tenho pena do Íbis, que no fundo é muito correto na relação custo x benefício, e faz um grande esforço para ser simpático, seja através da cordialidade dos funcionários, seja através de uns cartazinhos feitos para comunicar aos hóspedes que podem se sentir aqui como se estivessem em casa.
Não adianta.
A grande aventura do mundo não passa por aqui; nem sinal "dos propósitos que nos acariciam nos grandes terraços dos hotéis cosmopolistas e que doem por sabermos que nunca os realizaremos".
O único propósito que nos acaricia no Íbis é terminar logo o que temos a fazer na cidade e voltar para casa.
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