30.10.05
A vista do quarto
Ein-taum (com sotaque paulistano): antes de me mudar para este prédio, eu já morava aqui na Lagoa há um tempão, dois prédios mais para lá, na direção do Corte.
O antigo, na ponta de um desses grupos de edifícios de pilotis, tinha quatro apartamentos por andar. Eu morava na melhor coluna, a que fazia esquina. Tinha vista de frente pra Lagoa na sala, e vista lateral pra dita cuja nos dois quartos.
Eu vivia de olho neste prédio onde moro hoje, por ser então um dos poucos viáveis para mim; os vizinhos todos são um por andar, impraticáveis. Hoje este seria impraticável também; mas na época ainda não existiam os quiosques, a Lagoa era um lugar perigoso, havia mortandade de peixes, etc. etc. etc. E este tem dois apartamentos por andar e não tem garagem, só uma espécie de pátio comum de estacionamento.
Foi um longo namoro. Quando aparecia um apartamento legal eu não tinha grana, quando eu achava que tinha grana não aparecia apartamento nenhum... enfim, ao cabo de uns dez anos, fez-se uma conjunção astrológica favorável e pude vir pra cá.
A vista da pedra e do mato foi uma revelação, e uma novidade tão grande que passei muitos meses praticamente sem olhar pela janela da sala. Eu punha uma cadeira no quarto virada para a janela e ficava namorando o morro, que os gatos também adoram.
Os três quartos -- o escritório, o quarto da Bia e o meu -- têm essa vista.
De uns tempos para cá, uns pombos se estabeleceram numa das fendas da pedra, e ficam arrulhando. Os gatos estão convencidos de que é uma provocação. Se não houvesse a tela nas janelas, eles com certeza iam lá mostrar para aqueles bichos com quantos paus se faz uma canoa.
Antes iam se esborrachar lá embaixo, coitadinhos, Deus me livre -- mas não digo isso a eles não.
Digo apenas que é claro, que é lógico que ensinariam duas ou três coisas àqueles pombos safados.
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