16.6.04



Em Barcelona... e com wi-fi!

Finalmente, volto a saber o que é uma conexão ao alcance dos pés -- ou seja, no meu próprio quarto! Estou num simpático hotel chamado Duc de la Victoria, ao lado das Ramblas. Meu quarto tem um balcão que se abre para uma rua estreita; lá do outro lado, um lindo edifício, também cheio de balcõezinhos entreabertos, bem "Janela Indiscreta".

Cheguei ainda agora à cidade. O tempo está ótimo e acabo de falar pelo telefone com as minhas meninas, a Mayra, espécie de filhota número dois, e a Marina, filha do Chico Caruso, portanto sobrinha de coração, muito querida. As duas, jornalistas, da mesma idade, ainda não se conhecem, apesar de morarem na mesma rua; amanhã estou resolvendo este problema.

Mas ainda não consegui "chegar" direito.

Gosto de Barcelona e estou feliz com o balcãozinho por onde entra a brisa e por onde entrevejo uma sala de jantar enquanto escrevo, notebook no colo; mas sair de Veneza, para mim, é sempre uma tristeza. Eu venho e o meu coração fica, junto com o meu interesse, os meus passos, a minha curiosidade. Morro de saudades do barulho da água, dos barcos e do cheiro da cidade; há uma parte de mim que vive melhor lá do que em qualquer outro lugar do mundo, uma parte que se encanta com cada esquina e que agradece aos céus a escala humana, a densidade histórica, a cidade que se atravessa a pé, a ausência de carros.

Adoro me perder em Veneza, coisa que, obviamente, acontece o tempo todo; e adoro pedir informações e ouvir o inevitável "sempre direto" com que os venezianos descrevem um caminho que vira à esquerda, sobe uma ponte, vira à direita, desce um sotoportego, passa por outra ponte e, finalmente, vai dar num campo de onde saem quatro ruas diferentes -- nenhuma das quais a que você procura.

Numa dessas ocasiões um senhor foi me explicando, vai sempre direto, entra aqui, vira acolá, sobe, desce, vira... "e aí você vai dar num pequeno campo. Esplêndido, verdadeiramente esplêndido! No campo, você faz a volta da igreja e pronto, está lá. Mas não deixe de apreciar o campo!"

"Campo" é o equivalente a uma espécie de praça; e, de fato, era tão esplêndido o tal campo que acabei ficando por lá, esquecida de onde tinha pensando ir.

Na verdade, passei esses dias todos saindo para um canto e indo para outro, ao sabor do acaso. Fui duas vezes à Santa Maria Gloriosa dei Frari, mas não cheguei a entrar na Basilica de San Marco; entrei em algumas igrejas que não conhecia, ou das quais não me lembrava, e deixei de visitar a Salute, praticamente ao lado do hotel.

Também adoro caminhar pelo labirinto das ruas de Veneza depois que o sol se põe. É impressionante o quanto se pode andar por lá, no escuro, sem encontrar outra pessoa; no silêncio da noite, a gente sabe do outro pelos passos, que já se ouvem de longe.

Ô saudade!

Agora é me acostumar novamente com o barulho dos carros e curtir Barcelona -- que também é tudo de bom.

Ainda estou na dúvida se acesso ou não a mailbox. Acho que vou me dar mais um tempinho de descompressão...

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