Das trincheiras da Fashion Rio
Ontem fui mais uma vez à Fashion Rio e, para variar, achei ótimo: encontrei até o Macksen Luiz, amigo queridíssimo de longa data, que não via há séculos.Macksen e eu fomos colegas de Jornal do Brasil há mais tempo do que convém lembrar num blog eventualmente lido por menores. Além de ser um dos principais críticos de teatro do país, Macksen é casado com a Iesa Rodrigues -- que, no mundo fashion, tem merecido status de divindade.
Ela, aliás, me fez uma descrição perfeita do que é um desfile de moda: uma peça de teatro com uma única apresentação, tão curtinha que, por pior que seja, não consegue aborrecer ninguém.
Iesa e Lula Rodrigues são, por sinal, os meus principais anjos protetores nos desfiles. Tenho credencial para o evento como um todo, mas raramente tenho entrada para os desfiles e, muito menos, lugar marcado; mas, quando estou com eles, acabo invariavelmente sentada na primeira fila, me sentindo a Diana Vreeland em pessoa.
Bom -- vocês não têm noção do que é a briga por esta primeira fila! Antigamente eu achava que era só por causa do ponto de vista: as modelos passam a poucos centímetros da gente, pode-se ver cada detalhe das roupas e, no caso dos desfiles de moda praia, cada milímetro de celulite.
É muito reconfortante.
Mas sentar na primeira fila é, mais do que isso, um poderoso símbolo de status no mundo fashion. A tal ponto que a distribuição de lugares não atende por este nome, mas sim por sitting -- o que lhe confere, automaticamente, uma conotação científica.
Organizar um sitting num desfile concorrido é missão mais espinhosa do que cuidar de uma tropa de paz da Onu. Há um grupo que, imagino, deve ser relativamente fácil de resolver, que é o dos grandes jornalistas de moda. Estes precisam mesmo estar o mais perto possível da passarela, já que vão descrever o desfile; o grupo é quase sempre o mesmo, e sua presença na primeira fila não é questionada por ninguém.
Depois há as celebridades que chamam a atenção dos fotógrafos e que garantem repercussão ao desfile. Mas aí já começa a ficar mais complicado, porque há celebridades mais célebres do que as outras -- só que as celebridades, de modo geral, não se dão conta disso.
Há também grandes clientes das grifes, autoridades, amigos e familiares dos estilistas, parentes das modelos, gente com os mais diversos tipos de pistolão -- sem contar colunistas de Segundo Caderno enxeridas, que têm bons amigos no métier e que gostam de fotografar os desfiles.
E há, é lógico, um número limitado de assentos.
Tiro o meu chapéu, com o mais profundo respeito, para a valente rapaziada que consegue lidar com tantos e tão espinhosos abacaxis ao mesmo tempo, no habitual empurra-empurra da entrada, sem perder a graça, a simpatia e a elegância.
Eles são os meus heróis.
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