27.7.02



Home Sweet Home

Eu sei, estou em em falta com o blog... mas desta vez a ausência de posts teve dois motivos sérios. Um foi a gracinha da Air France que, ao perder as nossas malas, perdeu também o precioso tempo que eu teria para escrever. Vocês não imaginam o que é comprar uma roupa decente em Monte Carlo! Por decente entenda-se algo que não seja nem obscenamente caro, nem grosseiramente vulgar. Ora, dá-se que as senhoras que freqüentam a cidade parecem apreciar o segundo gênero, ao passo que os cavalheiros que lhes pagam as roupas parecem fazer questão do primeiro. A combinação é letal: Versace e Lacroix vendem feito água.

Andrea Assef (minha colega da Isto É Dinheiro) e eu passamos uma tarde inteira tentando descobrir alguma coisa à la Gap ou Banana Republic, ou seja, algo discreto a um preço razoável. Foi uma áfrica, pior no meu caso do que no dela, que é magrinha e linda, e veste tudo muito bem; finalmente conseguimos, mais ou menos, mas à custa de grande esforço.

O segundo motivo que me manteve afastada foi o custo das ligações do hotel, onde instalei meu fiel ThinkPad, aliado ao teclado alemão das máquinas da sala de imprensa da Siemens. Vocês já viram um teclado alemão? É um desespero, completamente diferente dos que estamos habituados a usar. Entre usar aquilo e deixar para escrever depois, não foi lá muito difícil me decidir.

A viagem foi uma aventura: cansativa, mas no fundo divertida até pelo que deu errado. Agora estou morta, mas aos poucos vou escrever mais sobre Mônaco e postar umas fotos. Aqui fica, de qualquer forma, o trechinho de um email que mandei para um amigo:

"Agora é que, aos poucos, vão começar a cair as fichas do que aconteceu, das pessoas com quem me encontrei, das coisas de que, certamente, vou me lembrar para sempre. Uma delas: o vinho com três amigos, um deles recém-conhecido, no terraço do Hotel Hermitage. Uma lua cheia maravilhosa no céu, o mar ali ao lado, o bar e o restaurante já completamente vazios e nós sem nenhuma vontade de ir embora, pondo a vida em dia, rindo, felizes, maravilhados com o nonsense da cena -- o que diabos é que nós estávamos fazendo lá?! Foi muito bom. Essas duas ou três horas naquela noite de quarta-feira valeram todo o transtorno causado pela Air France."

Acrescento que, no terraço daquele belo hotel, naquela noite simplesmente perfeita, eu não conseguia tirar da cabeça uns versos do Álvaro de Campos, daquele Excerto de Ode que começa com Vem, Noite antiquíssima e idêntica... Só um trechinho, para que vocês saibam porque é que eu tanto pensava nele:

Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...


O resto está aqui.

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