28.7.02



Desventuras aéreas

Há algo profundamente errado com uma companhia aérea quando uma passageira da executiva pergunta à aeromoça, em desespero de causa, o que estão servindo de jantar na classe econômica -- sobretudo quando esta passageira é do tipo que, assumidamente, gosta de comida de avião. Aconteceu comigo, voltando de Paris a bordo de um avião da TAM.

Eu acho a TAM uma companhia simpática, às vezes viajo com ela para São Paulo e sinceramente torço para que dê certo, mas a verdade é que, pelo menos por esta minha experiência, ela ainda não está preparada para vôos internacionais. E não só pela comida. As aeromoças são boazinhas mas vagarosas e confusas, e até coisas simples, como pegar travesseiro e cobertor, acabam virando problemas. Em qualquer outra companhia aérea, travesseiro e cobertor já estão em cima da poltrona quando a gente embarca; na TAM é preciso pedi-los à aeromoça -- que mal e mal está dando conta do resto do serviço.

Que é, justamente, a famigerada comida. Na noite do meu vôo, havia quatro opções à disposição do passageiro: salmão, carneiro, massa e frango. Nem é preciso tanto; só é preciso que seja bom. Salmão: tudo bem, é um peixe elegante e a TAM não tem culpa se eu não morro de amores por ele. Carneiro? Sinto, mas não é carne que se sirva à noite, sobretudo em avião. Massa: ótimo, recheada com espinafre e ricota... mas com berinjela?! Também não é culpa da TAM, mas odeio berinjela. Sobrou o frango: um pedaço de peito boiando em caldo, sem qualquer sabor.

Meu colega Chico, que não tem nada contra salmão, já havia trocado seu pedido inicial pela massa (ele não tem nada contra berinjela, também). Mas tudo estava tão ruim quanto a massa que serviam na econômica. O pior é que não havia um único filme que prestasse para nos consolar do jantar.

Nisso é que dá code share: a gente viaja achando que vai de Air France (que já é uma companhia inaceitável, vide episódio das malas, mas que pelo menos tem boa comida e bons filmes de bordo) e acaba caindo na TAM...

Conclusão? Eu amo a Varig. Os aviões estão velhos, as poltronas já deviam ter sido trocadas, a crise é geral, mas a empresa não perdeu a sua cancha internacional, o cardápio é bom e, sobretudo, o pessoal é o máximo.

Ah, sim: há uma pergunta que me faço desde quando entraram em cartaz as facas de plástico. Onde estão os responsáveis pela comida de bordo que ainda não perceberam que faca de plástico não existe? Seria de se supor que, em fins de setembro de 2001, quando já não se via mais um talher decente nos céus, os cardápios estivessem recheados de picadinhos, bacalhau desfiado, strogonoff, beef bourguignone, frango xadrez... enfim, as centenas, milhares de receitas que tratam a comida em pedacinhos. Mas que nada. As companhias aéreas continuam servindo bifes como se estivessem dando aos passageiros facas para churrasco. Será que ninguém pensa nisso?!

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