10.8.09

Twitter: o dia em que a terra parou



E de repente, não mais que de repente, o Twitter saiu do ar.

Isso foi na manhã de quinta-feira, mas só tive notícia do acontecido à tarde, quando tudo já estava – mais ou menos – controlado. Viver na contramão tem suas vantagens, além da natural predisposição para a observação de pássaros noturnos, que já me trouxe tantas alegrias.

Outro aspecto positivo é descobrir novidades e pessoas do outro lado do mundo. Ao longo dos anos, acumulei uma quantidade de conhecidos online em diversos países asiáticos. É por isso que não estranho quando, em “Caminho das Índias”, o povo se telefona a qualquer hora, como se essa qualquer hora fosse a mesma lá e cá; para mim, é.

Pegando a rebarba do ataque quando, afinal, fui para o computador, vi que foi feia a coisa. Vício é vício e, como qualquer comunidade online, o Twitter alimenta-se da compulsão dos usuários. A hashtag mais popular do dia foi #whentwitterwasdown, que marcou as tuitadas que o povo deu sobre a crise de abstinência sentida por conta do DDoS.

A verdade é que, apesar do ar de nova novidade e da utilidade como noticiário instantâneo, o Twitter é, no fundo, um sistema de chat mais sofisticado (e, por causa da concisão dos tuites, menos cansativo; mas isso são outros quinhentos). Chats são sempre viciantes: o ser humano é um animal que se comunica e que adora contar histórias, e ver a rodinha de sempre sumir num erro 404 pode ser desesperador.

* * *

Mudando de assunto mas ficando no mesmo, há algum tempo observo que, apesar da quantidade sempre crescente de usuários, a tendência no Twitter, assim como nos velhos chats, é “falarmos” sempre com o mesmo círculo de pessoas – basicamente, aquele que tem um horário parecido com o nosso.

No Facebook a equação está mais bem resolvida porque ele não segue o padrão de um sistema de chat, mas de um fórum de discussões.

Cada um tem seus prós e contras. É mais divertido assistir ao Jornal Nacional na companhia dos tuiteiros, por exemplo, porque os comentários vêm em cima do lance; mas é muito melhor trocar idéias com a turma do Facebook, onde os tópicos têm sobrevida maior.

Assistir ao escabroso espetáculo encenado pelos senadores Renan Calheiros e Tasso Jereissati acompanhando as gozações e exclamações de nojo dos tuiteiros ofereceu um certo consolo a quem já não agüenta mais tudo isso que aí está. Sofrer em conjunto é compartilhar a miséria.

Perguntei que título teria o filme do Senado: "Tudo por um cargo"? "Piranhas Federais"? "O ataque dos senadores selvagens"? Pipocaram sugestões; mas a minha favorita foi a do Fábio Pimenta (@Pimenta_Fabio): “Suinado Federal”.

Eles merecem!


(O Globo, Revista Digital, 10.8.2009)

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