10.11.08

Mailbox não é lixeira

Agora vejam só vocês como sofre quem padece: há alguns dias, chegando à redação, abrindo minha mailbox e constatando a quantidade de lixo, comentei com a Elis e com o André que, para mim, o email estava definitivamente morto e sepultado.

-- Gozado, -- disse o André. – No outro dia mesmo ouvi alguém falando que também não agüenta mais... Quem foi?

Seja lá quem tenha sido, foi, provavelmente, algum netsauro da minha espécie, que entrou na rede quando –- acreditem! -- a gente ficava na rua sonhando com o momento de voltar para casa só para descobrir o que havia na mailbox.

A internet nascia, a web não era nem um brilho no olhar do Tim Berners-Lee, e o mundo começava a descobrir a maravilha de caber, inteirinho, na tela de um computador. Trocávamos informações com gente espalhada pelos quatro cantos da terra, gente de quem nunca tínhamos ouvido falar, e que apenas em pouquíssimos casos chegamos a encontrar ao vivo, cujo único elo de ligação conosco era estar participando da mesma aventura ao mesmo tempo.

No tempo da computação a vapor, receber emails era emocionante, juro.

Se alguém tivesse me dito, então, que haveria um momento na minha vida em que eu teria horror à mailbox, e que passaria dias sem abri-la, de puro tédio, eu não teria acreditado.

Passaram-se vinte anos numa velocidade espantosa, e aqui estou eu, fugindo como posso dos emails, que hoje considero –- como tantos outros usuários -- uma forma ultrapassada e desagradável de comunicação. O problema, é lógico, não está nas mensagens que precisamos ou queremos receber, mas na quantidade de ruído irrelevante que faz com que as mensagens importantes se percam na confusão geral.

Para spam já existem filtros –- mas o que fazer com as pessoas que, com a melhor das intenções, passam para toda a sua lista de conhecidos dez piadinhas diárias, apresentações de slides, fotos de crianças supostamente desaparecidas e pedidos de assinaturas em manifestos de todos os tipos?

Se você se reconheceu nesse rápido retrato, vá à livraria mais próxima e compre Enviar, de David Shipley e Will Schwalbe (Editora Sextante, R$ 25). Atentos ao fato de que uma das ferramentas mais úteis de que dispomos está sucumbindo ante o peso de tanto lixo, os autores escreveram um verdadeiro manual para o uso racional do email.

É tão sensato o livrinho que deveria ser leitura obrigatória para todo usuário –- sobretudo para os que não pensam antes de clicar em ENVIAR.

(O Globo, Revista Digital, 10.11.2008)

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