Momentos cruciais da vida do meu iPhone...
Uma cadeia chamada Appstore
Quem acompanha esta coluna com regularidade sabe que o iPhone não é meu celular favorito. Não é implicância; é conseqüência de anos de uso de celulares melhores, sobretudo, desde que foi lançado, do Nokia N95, a meu ver a mistura ideal de aparelho de trabalho e de entretenimento. Como todo aparelho que usa o Symbian, melhor sistema operacional que os telemóveis já viram até agora, o N95 é um poderoso computador de bolso, que de quebra vem com uma excelente câmera de 5 megapixels e, agora, 8Gb para armazenar música, vídeos e aplicativos à vontade.Para mim, o iPhone tem certas falhas difíceis de entender num aparelho 3G da sua categoria. O Bluetooth é um fracasso, a interface é imexível e não-personalizável, a Apple ainda não descobriu o MMS, a câmera é fraca e nem ao menos filma, e é impossível executar nele uma das funções mais necessárias para quem usa celular como ferramenta de trabalho: o humilde corta e cola. Outra falha seriíssima para quem gosta de fotografar e, sobretudo, vive em cidades inseguras como o Rio, é a falta de qualquer espaço onde prender uma correia de pulso. Explico: quem fotografa volta e meia pôe a mão para fora da janela ou para fora do carro, arriscando-se a deixá-lo cair. Já quem atende o celular numa rua carioca corre risco ainda maior de vê-lo sumir na multidão. A correia de pulso não é 100% à prova de ladrão, mas pelo menos torna a ocasião menos propícia.
Dito isso, esclareço que, como diversão, ainda está para aparecer celular mais rico e interessante do que o iPhone -- que é, também, um modelo de beleza. Mas quem o comprar para usá-lo com os míseros aplicativos com que vem, vai perder o melhor da festa. Entre os poucos itens da tela, há um que se chama AppStore. Lá se escondem brinquedinhos engraçados, trivialidades e um que outro utilitário. Vários são gratuitos, alguns até bem práticos: gostei particularmente de um conversor de medidas e de um nível, indispensável para quem quer saber se os quadros estão tortos ou não.
O problema é que quase tudo o que está na vitrine e tem alguma graça custa dinheiro. Tipicamente, entre um e cinco dólares, mas podendo ir a Deus sabe quanto. Uma cerveja virtual, que só serve mesmo para o dono do aparelho fazer de conta que está tomando a sua Brahma – e que, no momento, é causa de ação milionária na justiça americana por questões de copyright – custa três dólares. Não chega a ser uma fortuna, mas de grão em grão... Ainda por cima, numa pratica comercial no mínimo questionável, e contrária a tudo o que se conhece no mundo do software, não é dado ao usuário o direito de testar nenhum dos aplicativos antes de comprá-lo. Pagou e não gostou? Azar o seu, queixe-se ao bispo.
É por isso que tanta gente anda recorrendo a um esporte radical chamado jailbreak. A idéia é arrombar a cadeia da Apple e soltar a alma do celular para que ele possa ficar lindo, leve e solto, do jeitinho que cada um sonha. Há diferentes modalidades de jailbreak bem explicadinhas na internet, e muitos garotos talentosos na praça jailbreakando iPhones a preço módico. Digo isso apenas a título de curiosidade, claro está, posto que o arrombamento de cadeias da Apple é atividade ilegal, e que, como sabemos, todos os leitores desta revista são criaturas tementes a Deus e a lei. Ide na paz.
(O Globo, Revista Digital, 20.10.2008)
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