Estou me sentindo uma criatura muito bem equipada: agora, além de salinha de video muito bonitinha, tenho também um Sky, com direito a Animal Planet, Discovery, National Geographic e History Chanel.
Não sou de assistir televisão. Nós não tinhamos TV em casa quando eu era criança, mas isso não deve ter nada a ver com o problema, porque a Laura é a maior expert em séries que eu conheço. Já pensei um bocado sobre isso -- até porque esse meu "distanciamento brechtiano" (ou seria freudiano?) me levou a ser crítica de TV do JB durante anos, a pedido do Zuenir Ventura, que ficou maravilhado quando descobriu a minha ignorância sobre o assunto.
Por incrível que pareça, até que não me saí mal. As pessoas gostavam do que eu escrevia e hoje, relendo o que fazia então, também gosto.
Mas isso é passado.
Agora estou aqui na minha salinha, com a minha extraordinária Sony Trinitron de 29", que não só funciona, como, depois que esquenta, funciona até muito bem; e estou assistindo ao Jornal Nacional. Estou chocada com a quantidade de pessoas que não têm mais o que fazer e que estão em frente à casa dos assassinos em Guarulhos.
Sim, o que este casal fez é monstruoso; e não há dúvida de que pelo menos o avô também deveria ser indiciado, no mínimo por acobertar criminosos. Mas quando o governo desvia bilhões dos nossos reais para gastos estapafúrdios, quando ministros roubam, quando deputados, senadores, vereadores e toda a sorte de ratos embolsam dinheiro público, estão matando não uma, mas milhares de crianças.
E onde se escondem essas pessoas, que não se manifestam quando a roubalheira é eventualmente descoberta e revelada?
Que país, caramba.
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