Há dois dias estou enfurnada no escritório, que em má hora (15 dias antes do meu fatídico encontro com o rapaz da moto) entrou em obras: as estantes antigas, que ainda vinham de outros apartamentos, foram substituídas por uma única estante que cobre toda a parede.
Há mais espaço para livros e menos espaço para tralhas, porque, na reforma, também eliminei um gaveteiro, um móvel com quatro gavetas e armários na parte debaixo, além de um banco em cuja parte inferior havia duas gavetas.
Não chegou a ser exatamente um upgrade, porque a madeira e a qualidade dos móveis antigos era muito melhor; mas o aspecto ficou mais claro e aberto, e eu precisava desesperadamente de espaço para livros.
Por enquanto, os livros, em sua maioria, estão postos de qualquer maneira nas estantes, de onde, mais para a frente, serão retirados, limpos, e arrumados de verdade (tarefa para a qual vou contar com a ajuda da Jussara); no momento, era preciso tirá-los do caminho para cuidar do resto.
Mas que resto trabalhoso! E quantas dúvidas: um Syquest de 400 gramas e 1Gb é lixo, ou já pode ser considerado um antique tecnológico? E o primeiro Clié da Sony? Há alguma hipótese de que eu ainda venha a usar um cabo de extensão de saída paralela ? Guardo os cinco cabos de rede que, sei lá por que cargas d'água, acumulei ao longo desses anos? E o Palm V que não funciona? E o modem 3Com que a Velox resolveu trocar por outro, mas nunca veio buscar?
A certa altura liguei pro Tom:
-- Você quer um Zip Drive de 100Mb?
-- Já tenho um no sótão.
-- E um de 250Mb?
-- Tenho também.
Bom, com um museu de tecnologia tão próximo de casa, não precisei me preocupar com o destino das minhas velharias. Foram para o lixo, com exceção do Syquest, que é uma piada, e do Clié, que é a prova viva (a bem dizer, morta) de que nem sempre um grande design resulta num bom produto.
Joguei fora, sem olhar, as dezenas de disquete que ainda tinha, e uma quantidade de fitas VHS daquelas que custavam baratinho nas bancas. Joguei fora pilhas de revistas de computador, de viagem, de decoração.
As mais interessantes ficaram. Dei para o Lucas várias Photo e American Photographer dos anos 70 e 80, e guardei meia dúzia de revistas de computação dos anos 80. Também guardei uma Digital Photography de... caramba, que ano mesmo?... cheia de ofertas irresistíveis, como uma sensacional Olympus de 3,2 Megapixels, pela módica quantia de US$ 1.879,00.
Nesses dois dias, saíram do escritório uns dois sacos de lixo daqueles pretos, enormes, cheios também daquelas coisas que acabam ficando em casa pelo poder da inércia: lembrancinha daqui, souvenir dali, caixas quebradas de CDs, apontadores que não apontam, canetas que não escrevem, calendários de anos terminados há muito, agendas de décadas passadas em que duas ou três coisas foram anotadas e nunca mais.
Para isso contei com a ajuda da Bia e da Heliana, que não têm nada do meu espírito acumulador.
-- Mãe, essa moldura, além de cafonérrima, está enferrujada. Desapega!
-- Que lixo, essa concha.
-- Fui eu que peguei, no fundo do mar.
-- Devia ter deixado lá!
E assim por diante.
Mais difícil, em termos de logística, foi resolver a questão das fotos e das cartas, que compõem a vasta maioria de tudo o que não é livro no escritório. Uma vez, anos atrás, fiz uma faxina nas cartas. Naquela época eu guardava até cartão de Natal. O que sobrou é imexível: não consigo me desfazer de cartas, não adianta.
Em relação às fotos -- milhares, em diapositivos, negativos, cópias contato e cópias em papel nos mais diversos tamanhos -- vou, assim que tiver dinheiro, contratar alguém para digitalizar tudo.
Vou ganhar um espaço precioso e, sobretudo, vou me reencontrar com muitas lembranças. Hoje não consigo imaginar nada mais inútil do que um diapositivo, e nada menos prático do que um negativo.
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