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Carta de um comandante
"Meus caros amigos
Estou em Bangkok, voltando hoje a noite para Dubai.
Estou arrasado com o acidente do JJ3054 e nesse momento inicial resta apenas rezar por aqueles que partiram de forma tão trágica.
Porem, como profissional de segurança de vôo, sinto-me inconformado com essa catástrofe que infelizmente vinha dando 'avisos' claros há mais de dois anos, praticamente.
Quando eu estava ocupando a Gerência de Segurança do GIPAR, logo após o recapeamento da pista de Congonhas, no qual foi utilizado um novo tipo de asfalto 'poroso' que, segundo os engenheiros da INFRAERO, possuía grande capacidade de drenagem, registramos a ocorrência de uma série de incidentes onde houve dificuldades de controle direcional, aquaplanagem, e até mesmo o registro fotográfico feito por um piloto da TAM de um rio de lama passando por sobre a cabeceira 17R num dia de
chuva intensa.
A INFRAERO insistiu que não havia problema algum com o asfalto, que não seria mais necessário fazer o 'grooving', porém a VARIG, TAM, GOL e BRA registraram 42 ocorrências e incidentes com essas características num período de 3 meses e meio em que fizemos um monitoramento do problema em uma ação conjunta das empresas através da Secretaria de Segurança de Vôo do SNEA(Sindicato Nacional das Empresas Aéreas).
Fizemos então uma reunião conjunta com a INFRAERO, DAC (na época) e empresas aéreas, mas o resultado esperado não foi obtido e estamos assistindo agora às conseqüências. Nessa reunião, o Cmte. Castro, Safety da TAM, apresentou um brilhante estudo baseado em dados do FOQA, no qual, através da utilização de um software, foi possivel calcular o coeficiente instantâneo e médio de desaceleração durante o pouso, e que mostrava claramente que os valores de coeficiente de atrito estavam muito abaixo dos valores mínimos de certificação. E o problema maior era justamente no final da pista 35L, onde ocorreu o acidente com a TAM.
É lamentável que todos esses alertas, inclusive os da derrapagem dos 737 da BRA e da GOL, não tenham sido suficientes para mobilizar as autoridades e responsáveis pelo Sistema de Aviação Civil, permitindo que tais fatores contribuintes permanecessem presentes por tanto tempo, juntando-se a outros fatores adicionais, tais como a recente crise do sistema ATC, pressões econômicas pela continuidade da operação em condições as vezes nadequadas, criando uma enorme janela de oportunidade para a ocorrência de um acidente desse porte.
Desejo nesse momento que a família TAM tenha condições de superar tal infortúnio e espero que os responsáveis pela investigação tenham a decência de apontar esses fatores em seu relatório de investigação."
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