9.10.05



A peça, segunda parte

O Macksen tinha, é claro, toda a razão. A Bia, a Van Or, o Lucas e eu estávamos todos no Sérgio Porto não por curiosidade malsã, mas porque o Ribondi me pediu que desse uma olhada no espetáculo.

É que este é o grupo que está querendo levá-lo para o Irã para fazer uma peça lá.

Tem coisas que a gente só faz por amor. Ir a uma peça iraniana é uma delas.

Ir sozinha, porém, já é demais; de modo que consegui chantagear a Bia, a Van Or e o pobrezinho do Lucas, que tinha até festa rolando em casa, a ir até lá comigo.

Depois de ver a peça, todos chegamos à conclusão de que o Ribondi TEM que ir para Teerã, dado que, pelo exemplo que nos foi mostrado, o povo lá ainda não descobriu que um pouco de ação em cena não faz mal a ninguém.

Vai ver que a missão dele na vida é, justamente, fazer uma revolução na cultura iraniana!

Alah escreve certo por linhas enroladas (às vezes conhecidas por arabescos).

:::::

A peça é uma chatice, sem dúvida mas, com um pouco de boa vontade, pode ser compreendida -- ou quase.

Eu a entendi assim:

-- No escuro, a voz em off é a conversa do ator com um psiquiatra, pelo telefone. No fim da peça, a gente percebe que ela acontece depois da ação (se é que se pode chamá-la assim) que se vê.

-- A conversa incompreensível entre o casal é a sua última conversa, o momento da separação.

-- Ele não aceita esta separação, e mata a mulher (suponho).

:::::

Não teria feito mal a ninguém se alguém tivesse explicado ao público que, no Irã, um homem e uma mulher só podem se tocar no palco se forem casados na vida real, e se a trama assim o exigir rigorosamente. A falta de ação e a tal mesa comprida entre o casal é, imagino, uma crítica a essa imposição da ditadura religiosa do país, mas fica difícil apreciar isso sem saber das restrições dos aiatolás.

Os atores, verdade se diga, fizeram um bonito. Conseguiram se concentrar numa peça muito exigente do ponto de vista emocional apesar da frieza da platéia. É arrasador para um artista ter que lutar contra um fosso cultural, acentuado, ainda por cima, por problemas técnicos.

:::::

Moral da história?

Todos foram muito valentes: os atores por levarem o espetáculo até o fim com bravura, e a platéia, por tê-lo assistido com relativamente poucas demonstrações de impaciência.

Nenhum comentário: