Baseado em fatos (quase) reais
O Jardineiro FielO filme começa, o espectador mal provou da pipoca e, zás!, Tessa Quayle (Rachel Weisz, magnífica) é brutalmente assassinada numa remota paisagem africana. O que é que ela estava fazendo naquele fim de mundo? E qual era a sua relação com o jovem médico africano que a acompanhava? Justin Quayle (Ralph Fiennes, igualmente perfeito para o papel), marido de Tessa, diplomata inglês ardorosamente dedicado à jardinagem, resolve esquecer regadores, ancinhos, conselhos de superiores e ameaças recebidas, e vai atrás das respostas às perguntas que o atormentam.
O casal mal se conhecia. Apesar de completamente diferentes, Justin e Tessa apaixonaram-se à primeira vista. A busca do marido pela verdadeira identidade da mulher e pelos seus reais sentimentos o leva a trilhar, inexoravelmente, o caminho do desastre. Desde as primeiras cenas, o espectador percebe que nada no filme conduz a um final feliz -- exceto, é claro, para os fãs de John Le Carré, autor do romance homônimo, que têm a rara felicidade de ver que o livro de que tanto gostaram encontrou tradução cinematográfica à altura.
Boa parte dos méritos cabe à direção dinâmica e criativa de Fernando Meirelles (sim, o nosso Fernando Meirelles, de "Cidade de Deus"), que mantém magistralmente a tensão da trama. Passo a passo com Justin, descobrimos que Tessa, ativista política, cometeu o erro básico de desconfiar da ação criminosa de uma companhia farmacêutica, testando drogas potencialmente letais na população carente de um país corrompido até a medula.
Ficção antiglobalizante? Quem dera: mudem um nome aqui, um país acolá e não, não há nada de ficção nesses fatos.
Paralelamente à tenebrosa questão política, vamos descobrindo, também, a extraordinária fibra de Tessa, a sua revolta contra a injustiça e, não menos importante, a sua devoção a Justin. Que desde o começo já se saiba que tudo isso se perdeu torna "O jardineiro fiel" ainda mais pungente -- e, desde já, um dos melhores filmes da temporada.
(O Globo, Rio Show, 14.10.2005)
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