14.7.05



Terrorismo e tecnologia

Quando o World Trade Center veio abaixo há quatro anos, os blogs, que até então eram conhecidos por meia dúzia de pessoas e, ainda por cima, tinham pecha de diários de adolescente, vieram para a luz da ribalta. O atentado permitiu ao grande público descobrir o extraordinário poder de comunicação da ferramenta singela mas versátil; e, de lá para cá, a blogosfera nunca mais foi a mesma.

Centenas de milhões de adolescentes continuam a fazer blogs, mas hoje também é através deles que circulam as notícias mais quentes. Os principais jornais do mundo os adotaram, e já há até jornalistas independentes conseguindo sobreviver graças a blogs que mantém sozinhos, o que é uma reviravolta extraordinária no mundo das comunicações -- onde, até outro dia, a informação era produto exclusivo de grandes empresas.

Em linhas semelhantes, o atentado de Londres acaba de consolidar uma outra tecnologia: a das câmeras e filmadoras de telefones celulares, com todos os seus defeitos e sua falta de definição.

As imagens captadas pelos usuários que viveram a tragédia não têm o foco, a resolução e o enquadramento que teriam sido obtidos com equipamentos profissionais, mas têm a emoção da hora, e nos mostram o que, de outra forma, não poderíamos ver.

Elas não são imagens estéticamente perfeitas -- sim, há imagens de horror perfeitas esteticamente -- mas são informação em estado bruto. A tal ponto que muitas ganharam inéditas primeiras páginas dos jornais no dia seguinte, e vários minutos filmados em celulares foram exibidos por emissoras do mundo inteiro, a começar pela BBC.

Respostas difíceis: Sony responde

O Serviço de Atendimento ao Consumidor da Sony Brasil respondeu à queixa que fiz em nome do leitor Lucio Wandeck, cuja câmera P52 faleceu prematuramente:
A Sony Brasil, que tem como política principal manter a qualidade de seus produtos e serviços, esclarece ao Sr. Lucio Wandeck que sua câmera adquirida em Nova Iorque, há dois anos, não possui garantia assegurada pela empresa, pois se trata de um equipamento importado.

O SAC Sony, no entanto, orientou o consumidor, no dia seguinte de seu contato, que seu produto poderia ser reparado pela rede autorizada da marca. Por isso foi enviado o link leitor.notlong.com, por meio do qual o Sr. Lucio Wandeck poderia escolher uma oficina mais próxima de sua residência. A Sony Brasil se coloca à disposição para mais esclarecimentos, caso seja necessário.

(O Globo, Info etc., 11.7.2005)


Uma das razões pelas quais os fabricantes não oferecem assistência técnica a produtos importados é que a carga tributária no Brasil é tão grande que o único "atrativo" que eles têm a oferecer a quem compra o produto aqui é, justamente, a garantia de assistência.

Por causa dos impostos, a mesma máquina que custa US$ 300 nos EUA sai a quase R$ 3 mil no mercado nacional.

Isso, para variar, nos põe à margem do desenvolvimento sob inúmeros aspectos: não só deixamos de ter acesso ao que há de mais moderno, como acabamos freqüentemente lesados como consumidores.

No caso desta P52, a Sony fez trocas de aparelhos defeituosos por outros modelos Cybershot na Ásia e nos Estados Unidos; mas os brasileiros que compraram a máquina no exterior ficaram a ver navios.

Isso não acontece só com a Sony, mas com todas as empresas de tecnologia que trabalham no Brasil.

A alternativa do Lucio (e de quem mais teve problemas com a P52) seria enviar a máquina para o exterior -- mas aí, além dos custos de transporte, ele teria que pagar mais 60% à aduana.

Em suma: o consumidor de tecnologia tem duas alternativas no Brasil. Ou é assaltado na fonte, pagando impostos escorchantes, ou paga lá fora o preço justo -- abrindo mão de qualquer garantia.

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