Surfe de cordel
Fábio FabulosoO Bonequinho está olhando porque esta é, sinceramente, a posição mais neutra que consegue assumir. Não sendo surfista, não tem como avaliar, pragmaticamente, a qualidade do que lhe é apresentado na tela. Achou bonitas algumas tomadas de cena, empolgou-se com a habilidade de Fábio Gouveia ? o ?Fábio Fabuloso? do título ? e dos outros surfistas apresentados.
O Bonequinho acha que, para quem pratica o esporte, o filme é um prato cheio, digno de ser aplaudido de pé; para as namoradas dos surfistas, que vão ao cinema fazer companhia aos queridos, é legal, e pode ser aplaudido sentado. O problema é que nem só de surfistas e namoradas de surfistas se faz o público.
Para o resto da humanidade, que até acha surfe um belo esporte mas contenta-se perfeitamente com os eventuais cinco minutos que vê na televisão, ?Fábio Fabuloso? pode ser uma roubada: a gente só se dá conta de que ele foi filmado nos lugares mais lindos do mundo por causa das legendas: Taiti, Fernando de Noronha, Havaí... Na tela, o que se vê é sempre a mesma coisa: uma onda enorme, habilmente cavalgada por um rapaz montado numa prancha.
O que salva ?Fábio Fabuloso? da mesmice dos filmes de surfe é que ele não nega as origens paraibanas nem no sotaque nem na apresentação: é um cordel da gota serena, em que as pranchas substituem, assumidamente, as peixeiras dos cabras.
(O Globo, Rio Show, 5.11.2004)
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