Irresistível!
O Alexandre Cruz Almeida desencavou uma lista dos Cem Melhores Livros do Século, feita pela Folha em algum momento do passado. Essas listas são sempre uma alegria e uma frustração. Uma alegria, porque servem pra se discutir meses a fio; uma frustração, porque ninguém jamais fará a lista do coração da gente.Concordo com o Alexandre, de quem a roubei descaradamente: dentro do dentro, é bastante boa. Mas acho que peca por um excesso de autores "sérios" em detrimento de bons autores que cometeram o crime imperdoável de se tornarem best-sellers ou, pior! terem uma irrefreável veia cômica.
A meu ver, só isso explica estarem aí tantos Virginia Woolfs e Becketts, e nenhum Somerset Maugham ou Evelyn Waugh. Do primeiro eu recomendaria Servidão Humana ou No Fio da Navalha; do segundo, A Handful of Dust, Brideshead Revisited ou The Loved One, uma obra-prima do romance satírico (não sei se foram traduzidos; provavelmente sim).
Na minha lista eu deixaria só um Thomas Mann (A Montanha Mágica) e juntaria pelo menos um Wodehouse, de preferência da série de Blandings; Encontro em Samarra, de John O'Hara; Ragtime, de E.L. Doctorow; O Dia do Gafanhoto, de Nathanael West; e O Deus das Pequenas Coisas, de Arundhati Roy.
Por questão de gosto, deixaria um só Céline (Morte a Crédito) mas acrescentaria A História, de Elsa Moranti. E acho uma injustiça não ter sobrado nem um lugarzinho para Carson MacCullers, Kurt Vonnegut (de preferência matadouro Número Cinco) e, sim, Hemingway: O Sol Também se Levanta é lindo de doer.
Finalmente, eu tiraria um Faulkner ou um Joyce e poria no seu devido lugar A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, que é um dos melhores romances jamais escritos. Ponto.
1°- Ulisses (1922), James Joyce (1882-1941).
## 2°- Em Busca do Tempo Perdido (1913-27), Marcel Proust (1871-1922).
* 3°- O Processo, Franz Kafka (1883-1924).
* 4°- Doutor Fausto (1947), Thomas Mann (1875-1955).
## 5°- Grande Sertão: Veredas (1956), Guimarães Rosa (1908-1967).
* 6°- O Castelo (1926), Kafka.
# 7°- A Montanha Mágica (1924), Thomas Mann.
* 8°- O Som e a Fúria (1929), William Faulkner (1897-1962).
# 9°- O Homem sem Qualidades (1930-43), Alfred Musil (1880-1942).
# 10°- Finnegans Wake (1939), James Joyce.
* 11° A Morte de Virgílio (1945), Herman Broch (1886-1951).
## 12° Coração das Trevas (1902), Joseph Conrad (1857-1924).
# 13° O Estrangeiro (1942), Albert Camus (1913-1960).
* 14° O Inominável (1953), Samuel Beckett (1906-1989).
## 15° Cem Anos de Solidão (1967), García Marquéz (1928).
* 16° Admirável Mundo Novo (1932), Aldous Huxley (1894-1963).
* 17° Mrs. Dolloway (1925), Virginia Woolf (1882-1941).
* 18° Ao Farol (1927), V. Woolf.
# 19° Os Embaixadores (1903), Henry James (1843-1916).
# 20° A Consciência do Zeno (1923), Italo Svevo (1861-1928).
# 21° Lolita (1958), Wladimir Nabokov (1899-1977).
22° Paraíso (1960), José Lezama Lima (1910-1976).
# 23° O Leopardo, Tomaso di Lampedusa (1910-1976).
# 24° 1984 (1949), George Orwell (1903-1950).
* 25° A Náusea (1938), Jean-Paul Sartre (1905-1980).
## 26° O Quarteto de Alexandria (1957-1960), Lawrence Durrell (1912-1990).
27° Os Moedeiros Falsos (1925), André Gide (1869-1951).
* 28° Malone Morre (1951), Samuel Beckett.
# 29° O Deserto dos Tártaros (1940), Dino Buzzati (1906-1972).
## 30° Lord Jim (1900), Joseph Conrad (1857-1924).
* 31° Orlando (1928), Virginia Woolf.
# 32° A Peste (1947), Albert Camus.
## 33° Grande Gatsby (1925), F. Scott Fitzgerald (1896-1940).
* 34° O Tambor (1959), Gunter Grass (1927).
# 35° Pedro Páramo (1955), Juan Rulfo (1918-1986).
36° Viagem ao Fim da Noite, (1932) Ferdinand Céline.
37° Berlin Alexanderplatz (1929), Alfred Döblin (1878-1957).
## 38° Doutor Jivago (1957), Boris Pasternak (1890-1960).
39° Molloy (1951), Samuel Beckett (1906-1989).
* 40° A Condição Humana (1933), André Malraux (1901-1976).
# 41° O Jogo da Amarelinha (1963), Julio Cortázar (1914-1984).
# 42° Retrato do Artista quando Jovem (1917), James Joyce.
## 43° A Cidade e as Serras (1901), Eça de Queirós (1845-1900).
44° Aquela Confusão Louca da Via Merulana (1957), Carlo Emilio Gadda (1893-1973).
# 45° Vinhas da Ira (1939), John Steinbeck (1902-1968).
## 46° Auto da Fé (1935), Elias Canetti (1905-1994).
## 47° À Sombra do Vulcão (1947), Malcolm Lowry (1909-1957).
48° O Visconde Partido ao Meio, Italo Calvino.
* 49° Macunaíma (1928), Mario de Andrade (1893-1945).
50° O Bosque das Ilusões Perdidas (1913), Alain Fournier (1886-1914).
* 51° Morte a Crédito (1936), Ferdinand Céline (1894-1961).
* 52° Amante de Lady Chatterley (1928), D.H. Lawrence (1885-1930).
* 53° O Século das Luzes (1962), Alejo Carpentier (1904-1980).
* 54° Uma Tragédia Americana (1925), Theodore Dreiser (1871-1945).
55° América (1927), Franz Kafka.
56° Fontamara (1930), Ignazio Silone (1900-1978).
* 57° Luz em Agosto (1932), William Faulkner.
## 58° Nostromo (1904), Joseph Conrad.
59° A Vida Modo de Usar (1978), Georges Perec (1936-1982).
* 60° José e seus Irmãos (1933-1943), Thomas Mann.
61° Os Thibault (1921-1940), Roger Martin du Gard (1881-1958).
62° Cidades Invisíveis (1972), Italo Calvino (1923-1985)
63° Paralelo 42 (1930), John dos Passos (1896-1970)
# 64° Memórias de Adriano (1951), Marguerite Yourcenar (1903-1987).
## 65° Passagem para a Índia (1924), E.M. Forster (1879-1970).
# 66° Trópico de Câncer (1934), Henry Miller (1891-1980).
* 67° Enquanto Agonizo (1930), James Faulkner.
## 68° As Asas da Pomba (1902), Henry James (1843-1916)
* 69° O Jovem Törless (1906), Alfred Musil.
70° A Modificação (1957), Michel Butor (1926).
* 71° A Colméia (1951), Camilo José Cela (1916).
72° Estrada de Flandres (1960), Claude Simon (1913)
# 73° A Sangue Frio (1966), Truman Capote (1924-1984).
# 74° A Laranja Mecânica (1962), Anthony Burgess (1916-1993).
## 75° O Apanhador no Campo de Centeio (1951), J.D. Salinger (1919).
## 76° Cavalaria Vermelha (1926), Isaac Babel (1894-1944).
## 77° Jean Christophe (1904-12), Romain Rolland (1866-1944).
## 78° Complexo de Portnoy (1969), Philip Roth (1933).
79° Nós (1924), Evgueni Ivanovitch Zamiatin (1884-1937).
* 80° O Ciúme (1957), Allain Robbe-Grillet (1922).
* 81° O Imoralista (1902), Andre Gide (1869-1951).
82° O Mestre e a Margarida (1940), Mikhail Afanasevitch (1891-1940)
83° O Senhor Presidente (1946), Miguel Ángel Asturias (1899-1974).
# 84° O Lobo da Estepe (1927), Herman Hesse (1877-1962).
# 85° Os Cadernos de Malte Laurids Bridge (1910), Rainer Maria Rilke (1875-1926).
## 86° Satã em Gorai (1934), Isaac Bashevis Singer (1904-1991)
## 87° Zazie no Metrô (1959), Raymond Queneau (1903-1976).
# 88° Revolução dos Bichos (1945), George Orwell.
89° O Anão (1944), Pär Lagerkvist (1891-1974).
## 90° The Golden Bowl (1904), Henry James.
91° Santuário (1931), William Faulkner.
* 92° Morte de Artemio Cruz (1962), Carlos Fuentes (1928).
* 93° Don Segundo Sombra (1926), Ricardo Guiraldes (1886-1927).
* 94° A Invenção de Morel (1940), Adolfo Bioy Casares (1914).
* 95° Absalão, Absalão (1936), William Faulkner.
* 96° Fogo Pálido (1962), Wladimir Nabokov (1899-1977).
## 97° Herzog (1964), Saul Bellow (1915).
## 98° Memorial do Convento (1982), José Saramago (1922).
99° Judeus sem Dinheiro (1930), Michael Gold (1893-1967).
100° Os Cus de Judas (1980), Antônio Lobo Antunes (1942).
Update: Pronto, marquei os livros! Os que li estão marcados com *, # e ##.
* Os que eu li porque sou uma traça desde a mais tenra idade e pouca coisa me escapou;
# Os que li com muito gosto;
## Os que adoro.
Pensando nessas cotações, pensei quantas permaneceriam as mesmas numa releitura. Por exemplo: tenho quase certeza de que, hoje, não gostaria tanto de Jean Christophe, do Lobo da Estepe ou do Quarteto de Alexandria como gostei quando era garota. Ulisses já tentei ler diversas vezes e nunca consegui passar da metade -- e isso num tremendo esforço de reportagem. Já desisti dele há tempos, embora goste muito de Finnegan's Wake (e mais ainda de Dubliners).
Também já desisti de gostar de Virginia Woolf. Eu sei, eu sei. Falha minha.
Em compensação, cada vez gosto mais de Scott-Fitzgerald, de Joseph Conrad e de Henry James; Isaac Bashevis Singer é um dos meus favoritos, nunca li nada dele de que não gostasse. O outro Isaac, Babel, também está no meu coração. À Sombra do Vulcão, Cem Anos de Solidão, Herzog e O Apanhador no Campo de Centeio já foram e relidos várias vezes; e Proust vai e volta da cabeceira.
Enfim. Eu teria tanto a dizer a respeito de cada um desses livros, mesmo daqueles de que não gosto...! Cresci à sombra deles e de seus irmãos; não consigo imaginar o que teria sido a minha vida sem a sua companhia.
De tudo o que eu sei e sou, os livros serão sempre a melhor parte.
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