A vida por um (sem) fio
Celular -- um grito de socorroCena um: mãe amorosa leva filhinho para a escola. No caminho, ficamos sabendo que Jéssica Martin (Kim Bassinger) é professora de ciências.
Cena dois: Jéssica volta para casa, troca duas palavras com a diarista e, antes que a gente possa dizer Sony-Ericsson, é seqüestrada por um bando sinistro que não hesita em matar a doméstica. Que não restem dúvidas na cabeça do público: eles são maus, muito maus.
Cena três: em pleno cativeiro, Jéssica consegue conectar os fios de um telefone quebrado -- ela é professora de ciências, lembram? -- e pede socorro ao desconhecido que atende do outro lado da linha. Este calha de ser Ryan (Chris Evans), um boyzinho desocupado mas de bom coração, que se comove com o que escuta e vai à luta.
A única coisa que os une, e que pode levar à salvação de Jéssica, é aquela precária conexão telefônica. Mas se ela está pendurada por dois fios tênues como a plausibilidade dessa história, ele está de posse, Deus seja louvado!, de um Nokia 6600, a última palavra em celular.
O filme, que em mãos erradas poderia ser o mais longo comercial de telefone de todos os tempos, é uma delícia. É cheio de suspense, de viradas inesperadas, de bom humor e de boas sacadas, cumprindo às mil maravilhas a nobre missão de divertir o espectador.
A única coisa que me aflige, neste e em todos os outros filmes em que celulares da Nokia fazem figuração, é o comportamento bizarro dos usuários. Embora conheçam todos os truques dos aparelhinhos, nenhum deles jamais se lembrou de fazer a primeira coisa que faz qualquer cidadão ao comprar um celular na vida real: mudar o som da campainha.
(O Globo, Rio Show, 12.11.2004)
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