17.11.04





Mad Maria

Tive que acordar às seis da manhã tendo ido dormir às duas; fui para um lugar tão quente que, misteriosamente, ficar ao sol era mais jogo do que ficar debaixo das árvores; descobri que repelente para insetos não funciona com formiga.

E, querem saber? ADOREI CADA MINUTO!

A produção de Mad Maria é uma aventura épica em si mesma. Se cuidar das minúcias de um filme de época já é complicado em estúdio, imaginem o que é na selva amazônica. A simples quantidade de repetição de cenas só porque os atores estão suando demais é de enlouquecer; mas não adianta enxugar a cara com uma toalha, porque é preciso que exista algum suor.

A diferença entre algum suor e suor demais é, acreditem, abissal. Constatei isso por mim mesma, vendo as imagens naquele monitorzinho através do qual os diretores acompanham a câmera.



Fiquei impressionada com a paciência de todos, do Ricardo Waddington aos figurantes; e cheguei à conclusão de que eu não conseguiria fazer sequer um dos espanhóis mortos de que falei no post de ontem. Os pobres têm que ficar imóveis ao sol, derretendo, enquanto a cena se repete e se repete e se repete.

No fim, quando afinal tudo dá certo, os gestos ficam perfeitos, as falas entram nos lugares e nenhuma nuvem atrapalha, há um problema técnico qualquer.

Eu com certeza explodiria em xingamentos; mas o Ricardo Waddington apenas diz "Raiva. Raiva. Ódio. Ódio. GRRRRRRRRRRR" com voz de desenho animado.

São todos doidos, mesmo.



Ver a velha locomotiva fabricada em 1909 restaurada e funcionando direitinho foi muito emocionante. O trabalho de recuperação foi feito por quatro velhinhos que a produção descobriu em Guajará-Mirim, que ainda se lembravam do que faziam há décadas, quando cuidavam da sua manutenção.

Sem querer, descobriram uma espécie de Buena Vista Social Club dos ferroviários.



Ana Paula Arósio, que é indiscutivelmente um dos bípedes mais lindos de se ver, fotografa tudo. Sei o que é isso. Para nossa decepção, porém, há pouquíssimos animais na área do set, que fica perto de uma pedreira; mas a certa altura alguém trouxe para ela uma linda lagarta azul de presente e ela ficou no auge da felicidade.



Eu não conhecia a Ana Paula, a não ser de encontros casuais, mas como não gostar de alguém que sabe apreciar devidamente uma lagarta azul?!




Amora Mautner, minha queridinha e uma das diretoras, estava com um problema exótico. Tem que filmar uma cena de sucuri que já aconteceu, sem a sucuri, num lago muito escuro perto daqui. A sucuri, no entanto, é um empréstimo do zoológico e não pode sair daqui.

Como conseguir fazer com que a água de uma piscina fique da mesma cor da água do lago?

Testes, testes e mais testes. Solução: pinta-se o fundo de um certo tom de marrom e junta-se uma certa quantidade de corante à agua. Mistura-se bem, acrescenta-se sucuri à gosto e serve-se à platéia, que sequer desconfiará do trabalho que foi inserir a cobra na história.



Juca de Oliveira está chocado com o desmatamento que tem visto ao longo dos últimos meses. Também está revoltado com o que aconteceu com a Madeira Mamoré, e acha que alguém tinha que ser responsabilizado por isso: como se assassina de forma tão perversa uma estrada de ferro e auto-estima de uma cidade?

Concordo com ele, totalmente. O sucateamento desta ferrovia teve requintes de maldade que nós conhecemos bem no Rio, onde o Palácio Monroe foi derrubado pelo mesmo motivo -- o capricho malsão de meia dúzia de milicos.




Na hora do almoço, conversando com os atores, fiquei sabendo que rola um clima de intriga muito chato na imprensa local. Frases que eles nunca disseram são inventadas, outras, que disseram, são tiradas de contexto e distorcidas, gerando uma sucessão de mal entendidos.

Rondônia fica a 3.500 kms do Rio, a minissérie acaba logo e, em tese, isso não teria -- como não tem -- a menor importância. Mas eles estão tristes porque, sem exceção, estão adorando o lugar e a aventura magnífica que estão vivendo.

A relação dos fãs com as celebridades sempre me assusta.

Os fãs desenvolvem sentimentos fortíssimos e irreais pelos seus ídolos; alimentam uma paixão de mão única que a rigor não é nada, mas que à menor contrariedade transforma-se num ódio igualmente intenso e inexplicável.

Estranho, muito estranho.



Terminei o dia fazendo um tour pela cidade com os meus mais novos amigos de infância, a Iva (a da bicicleta) e René, seu marido. Os dois vieram me buscar no hotel, me mostraram muitas coisas bonitas, me falaram da sua vida aqui e, por fim, me levaram a um barzinho ideal, cheio de coisas boas para beliscar.

Ao contrário do dia, a noite estava amena, com uma brisa gostosa que vinha do rio.

Estou gostando demais de tudo aqui, do meu encontro inesquecível com Mad Maria à simpaticíssima hospitalidade local.

Até a ducha do banheiro, que ontem estava meio assim-assim, hoje virou um Niágara. Não sei o que deu nela, e nem vou perguntar: vai que ela se chateia e volta a ser o que era...

Bom, pessoas, com isso me retiro. Com sorte, tenho quatro longas horas de sono até o despertador tocar.

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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