18.1.03



Trabalhadores do Mar

Imagine a cena: está você posto em sossego a bordo do seu iate, participando feliz de uma regata, quando, subitamente, aparece na escotilha um tentáculo gigante -- e o bicho ao qual pertence aquele tentáculo começa a puxar o barco para as profundezas.

Não, não é ficção. Ou, pelo menos, a BBC acha que não é, e dá como verdadeira a história de um iatista francês atacado por uma lula gigante.

Como a essa altura bem sabem todos os que assistem ao Discovery, a lula gigante é o mais misterioso habitante do fundo do mar, e quiçá o maior. Há pouquíssimos casos de encontros entre humanos e lulas gigantes documentados. Durante muito tempo, aliás, quem levou a culpa do horror foi o polvo, possivelmente graças a Victor Hugo que, em Os Trabalhadores do Mar, relata o arrepiante encontro entre seu herói Gilliat e a medonha criatura, "macia como couro, sólida como aço, fria como a noite..."

Li este romance quando era criança e, por causa dessa passagem, tive pesadelos com polvos durante um tempão. Mais tarde, quando aprendi a mergulhar, passei a me divertir muito com eles. É facílimo descobrir a toca de um polvo: são tão inocentes, coitados, que nem varrem o lixo da porta de casa. Você vê uma pilha de fragmentos de concha, cascas de caranguejo e caracóis perto de uma pedra e pronto, pode apostar: lá mora um polvo. Ainda por cima, eles têm um jeito tão pensativo e gozado de olhar pra gente...

Detalhe curioso: a regata da qual participava Olivier de Kersauson, o iatista atacado, chama-se Troféu Júlio Verne. Outro escritor que andou trocando as bolas e pondo o seu Capitão Nemo às voltas com o octópode errado.

Dica: Os Trabalhadores do Mar pode ser baixado de graça na Virtual Books Online, em tradução de -- ninguém menos! -- Machado de Assis. E Vinte Mil Léguas Submarinas também.

Não há de quê.

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