10.8.02



Tirem a internet da sala!

Escrevi este comentário para a edição de hoje do jornal, que traz uma notícia horripilante sobre uma rede de pais pedófilos:

Mais uma vez, a internet vira manchete num caso em que tem tanta culpa quanto o proverbial sofá da anedota. Se é difícil para qualquer um de nós imaginar que existam seres monstruosos como esses pais, para mim é igualmente difícil supor que ainda haja quem, a essa altura, atribua à rede a causa desse tipo de perversão.

A internet facilita a divulgação da pedofilia? Talvez. Mas, convém não nos esquecermos do outro lado da moeda: ela facilita, igualmente, a localização de pedófilos, que não deixariam de ser pedófilos se amanhã, por acaso, a rede deixasse de existir — a Humanidade é o que é desde sempre, e nunca precisou de novas tecnologias para incorrer em velhas monstruosidades.

A rede está proporcionando um crescimento inédito de casos de pedofilia? Duvido muito. Como qualquer ferramenta que aumenta o nosso conhecimento do mundo, ela apenas traz para a esquina de casa misérias distantes que antes podíamos nos dar ao luxo de ignorar. Não chega a ser muito diferente da televisão, que nos dá notícias em tempo real de terremotos na China, nos permite sofrer com os famintos da África e assistir, horrorizados, às conseqüências da barbárie no Oriente Médio. Nisso é que dá viver numa aldeia global.

Mas o problema não é apenas retórico. Pedofilia e terrorismo têm sido palavras-chave usadas para defender o controle do Estado sobre a internet; nos EUA, o FBI já tem poderes para vigiar os movimentos de qualquer cidadão pela web, num precedente tão perigoso quanto questionável.

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