20.6.02



Como viajar e falar ao telefone...
sem ir à falência

Quem viaja com razoável freqüência sabe que usar telefone de quarto de hotel é dos maiores riscos que se pode correr. Além de tomar por base as tarifas telefônicas mais caras existentes, a indústria hoteleira vem se especializando na criação de taxas e sobretaxas simplesmente surrealistas. Antigamente, ligações locais não ofereciam perigo, assim como as feitas para os 1-800; com isso, quem quisesse ligar para casa usando o seu cartão ATT, Embratel ou Global Call ficava tranqüilo, sabendo direitinho o quanto lhe custaria a brincadeira.

Bons tempos aqueles. Hoje já não existe hotel nos Estados Unidos que não cobre acintosamente por ligações de qualquer espécie. O simples ato de levantar o fone do gancho é um perigo, sobretudo em tempos de dólar instável. Durante minha última viagem, por exemplo, encontrei dois belos exemplos de como depenar um pato comunicativo. O primeiro foi no Sheraton de San Diego, que cobra US$ 2 pela primeira hora de qualquer espécie de ligação (local, 1-800 ou cartão telefônico); a partir dos primeiros 60 minutos, cada minuto subseqüente passa a custar US$ 0.10.

Ora, ninguém vai, em tese, passar mais de uma hora conversando com alguém em San Diego. Mas duas ou três horas de conexão internet passam voando, sobretudo para quem está a trabalho... A home-page do hotel menciona conexão internet banda-larga em todos os quartos, mas o máximo que eu consegui foi um IP discado vagabundo, que mal ultrapassava os 33.6Kbps... e caía a toda hora. Cada reconexão custava, é lógico, mais US$ 2. O pior é que sequer havia saída para banda-larga à vista em qualquer lugar do quarto. Quando perguntei à gerência onde estava a famosa rede, a resposta foi um cínico: "Ah, este é um serviço que teremos em breve..."

No Marriott de São Francisco, onde fiquei durante a MacWorld, e que fazia a mesma promessa em seu website, a resposta era, pelo menos, mais original: "A companhia que nos prestava este serviço faliu". Mas lá também não havia saída para banda larga no quarto. Ainda que isso fosse verdade, num e noutro caso, custava atualizar a home-page?!

Mas foi no Radisson Miyako de São Francisco, onde passei uma noite ao me desencontrar do Lynn, que encontrei a matemática mais esdrúxula. A primeira meia hora de ligação local, 1-800 ou cartão, era gratuita. A partir daí, aplicava-se uma taxa imediata de US$ 1,50, mais US$ 0,26 (!) para cada minuto subseqüente. Os cartõezinhos que informavam isso também esclareciam aos hóspedes que havia, no lobby, telefones públicos à sua disposição. Pode?!

Pior: a última moda dos business centers dos hotéis (e aeroportos) são umas máquinas automáticas de conexão que cobram preços ainda mais exorbitantes. Neste mesmo Miyako, para simplesmente ler os meus emails, gastei quase US$ 6; no Red Carpet Club, a sala Vip da United, gastei US$ 7 para nada, já que a máquina era tão lenta, mas tão lenta, que sequer consegui chegar ao meu webmail.

Nos velhos hotéis de antigamente, que tinham, cada qual, a sua gerência e as suas regras, ainda se podia discutir. Mas o que fazer diante desses assaltos corporativos em que os gerentes repetem, mecanicamente, que esta é a política da empresa?



Para quem viaja aos Estados Unidos com freqüência, e faz muitas ligações, uma saída razoável é comprar um celular pré-pago da ATT. Lá mesmo, em qualquer Radio Shack ou supermercado da vida. Há duas modalidades, o local e o nacional. O local é bom para quem fica numa única cidade, e pretende fazer ligações locais; o nacional é recomendável para quem viaja pelo país e nunca sabe para onde vai precisar ligar.

Esses kits prepaid, que se chamam Free2Go, vêm com um Nokia 5165, bateria, carregador e fone de ouvido para se poder usar o aparelho no carro, mais um cartão de US$ 25. O preço das ligações é caro, sobretudo o do sistema local (Local Calling Plan), que sai a US$ 0.35 o minuto; no plano nacional (National Calling Plan), cada minuto custa US$ 0.65, mas neste preço estão incluídos custos de roaming e ele é o mesmo para qualquer lugar dos Estados Unidos que se queira chamar. Sai mais caro do que o hotel? Sim, se você resolver pôr a vida em dia com o amigo que mora ali ao lado. Não, se você estiver fazendo um interurbano ou se ligar para a pessoa com quem precisa falar e pedir a ela para ligar para o seu quarto (mas não para o celular, em que você paga também pelas ligações recebidas).

O pré-pago comprado lá sai, sobretudo, muitíssimo mais em conta do que habilitar os serviços de roaming internacional das nossas operadoras. Você continua com a vantagem de ter um telefone sempre ao seu dispor, em que pode ser localizado a qualquer hora e em qualquer cidade (coisa que não acontece com o nosso roaming internacional), e escapa de um sistema em que uma ligação local sai, no mínimo, a US$ 0.80 por minuto -- e em que se paga, de cara, US$ 0.50, quer essa ligação se complete, quer não. Se o seu caso é fazer interurbanos, então, nem se fala, já que cada ligação feita pelo famigerado roaming internacional made in Brazil não sai por menos de US$ 2.50 por minuto. E olhem que nem estou falando de ligações internacionais!

Alguns segredos básicos de sobrevivência: é possível que, ao comprar o seu kit pré-pago nos Estados Unidos, o vendedor lhe peça o endereço de casa, portanto tenha à mão um endereço local. Social Security? Deixe estar, eles dão um jeitinho, sobretudo se o kit for comprado em lojas de brasileiros. Aproveite e compre também cartões adicionais para o seu pré-pago, pois, pelo telefone, a ATT só aceitará recarregá-los com cartões de crédito emitidos nos Estados Unidos.

Outros macetes: sempre que for se hospedar num hotel de grande cadeia como um Sheraton, um Hilton ou um Marriott, pergunte se eles têm planos especiais que incluam ligações locais e 1-800 gratuitas. Quase todos têm, geralmente sob nomes bobos como "Club Level" ou "Executive Plan", em que por uns US$ 20 ou US$ 30 a mais na diária você ainda tem direito a café da manhã e uso do fitness center. É a combinação típica. Parece mais caro, mas se você é um heavy-user de internet ou pretende telefonar do seu quarto, sai mais em conta no acerto final.

Finalmente, uma dica de cartão telefônico: o Global Call, imbatível. Este é um assunto que já pesquisei exaustivamente, mas até agora não encontrei tarifa mais baixa do que os US$ 0,20 que eles cobram por minuto entre Estados Unidos e São Paulo. Nós, cariocas, somos penalizados, talvez por morarmos numa cidade mais bonita, e acabamos morrendo em US$ 0,35 por minuto. Mas, mesmo assim, é quase de graça...

Você tem algum outro macete legal? Então conte pra gente aqui nos comentários: a comunidade agradece!

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